Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Afinal, Cid está hoje na base de Elmano ou não? Está rompido com a gestão petista ou não? São perguntas simples
O senador Cid Gomes (PSB) fez saber que havia rompido com o governador Elmano de Freitas (PT) no último fim de semana. Não se trata de exagero nem de força de expressão, mas de ruptura mesmo, confirmada por diferentes interlocutores do pessebista ouvidos por um sem número de repórteres de veículos diferentes.
Pelas 72 horas seguintes, o ex-governador se manteria em silêncio, quebrado apenas nesta terça-feira, 19, quando ressurgiu emitindo sinais ambíguos.
Afinal, Cid está hoje na base de Elmano ou não? Está rompido com a gestão petista ou não? São perguntas simples.
Pelo que sustentou em coletiva de imprensa após reunião do PSB conduzida por Eudoro Santana, sim, continua no arco de sustentação do chefe do Executivo estadual – até que se prove o contrário.
A rigor, Cid disse o seguinte: não existe decisão antes da conclusão dos ritos.
Que ritos são esses? O senador não explicou.
Supõe-se, contudo, que se refira às conversas que vem mantendo com diferentes atores desde o estouro da boiada, entre os quais Camilo Santana, Eudoro e deputados mais fiéis de PSB e PDT que devem segui-lo aonde for.
O assunto à mesa, evidentemente, são os termos da aliança com o PT. Precisamente: uma repactuação do contrato, digamos assim, considerado desfavorável tendo em vista o papel desempenhado por ele nas duas últimas eleições.
O fato de que estivesse ali afirmando com todas as letras que não havia definido qualquer rumo é um indicativo concreto de que continua aberto ao diálogo, ao menos em tese.
Logo, se rompeu com Elmano, recuou. Se não rompeu, passou aos mais próximos uma mensagem desencontrada cuja leitura permitiu interpretações diversas, inclusive a de que ele não compunha mais o bloco governista.
Das duas alternativas, a do recuo soa mais verossímil. É possível imaginá-lo, num gesto mercurial, mandando a aliança às favas após a escolha de Fernando Santana (PT) para a presidência da Assembleia Legislativa.
Cid tinha nome (Salmito Filho), mas, a despeito de o PDT “cidista” ter maior bancada, o comando da mesa-diretora caiu no colo do PT, que, como se sabe, já detém governo e prefeitura, além de ministério e presidência da República.
Isso sem falar da cadeira vaga no TCE, pleiteada para Lia Gomes (PDT), mas em relação a qual Governo/Camilo resistem a preencher de imediato.
Cid achou, e ainda acha, excessivo. Não apenas ele, na verdade, mas o senador é dos poucos a ter musculatura para falar.
Entre a agenda inamistosa no Abolição e a coletiva no PSB, muita água rolou sob a ponte. Os “bombeiros” entraram em campo para desfazer o feito e desdizer o dito. Camilo assegurou apoio à sua reeleição em 2026. Eudoro defendeu-o, atribuindo a culpa pelo rompimento a Elmano e ao PT.
Como não havia manifestação pública do senador, ficou tudo mais fácil, sobretudo para Cid, que pode se sair com evasivas do tipo da que lançou hoje, ao recorrer à metáfora do acesso do Ceará, cujas chances são razoáveis – mas, até a última rodada, nada de comemorar.
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