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O que Cid ganhou ao romper e recuar
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O que Cid ganhou ao romper e recuar

Em termos práticos, nada, salvo a promessa de Camilo Santana de que será seu apoiador caso pretenda se candidatar a novo mandato em 2026
Senador Cid Gomes  (Foto: Isabelle Maciel)
Foto: Isabelle Maciel Senador Cid Gomes

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Afinal, o que o senador Cid Gomes (PSB) ganhou ao anunciar internamente que havia rompido com o governador Elmano de Freitas (PT), mas recuar menos de 72 horas depois? Em termos práticos, nada, salvo a promessa de Camilo Santana de que será seu apoiador caso pretenda se candidatar a novo mandato em 2026. Entre sábado passado e hoje, período durante o qual a rusga se tornou pública, o PT reiterou o nome de Fernando Santana para o comando da Assembleia Legislativa (Alece).

Em paralelo, a legenda também não deu mostra de que discutirá neste momento o assento vago no Tribunal de Contas do Estado (TCE), um dos pleitos de Cid. Mas talvez o objetivo do pessebista fosse apenas reabrir os canais, e isso ele conseguiu. Ou seja, sua queixa, vocalizada em tom mais audível agora, deve ter feito o PT suspender articulações diversas para considerar acomodações que priorizem o aliado de grande importância.

Do contrário, é possível que Cid tentasse uma via já experimentada por ele cerca de duas décadas atrás, quando seu grupo minou gradativamente a gestão de Lúcio Alcântara, então no PSDB, de modo a chegar com chances em 2006, ano em que se elegeu chefe do Executivo estadual pela primeira vez.

O contexto era outro e o arranjo de forças, diferente, mas o princípio da ação é o mesmo: o caminho para o governo começou a ser pavimentado com antecedência.

A relação com o PT

Ainda que a crise aberta por Cid seja provisoriamente contornada, como o próprio senador fez crer em entrevista na última terça-feira, 19, o leite parece ter azedado. Dito de outro modo: o que se vai colocar em prática agora é uma operação para conter eventual fissura no bloco que venceu as eleições de 2022 e de 2024, ambas com o ex-governador tendo participação indireta e às vezes discreta, mas decisiva. Nada assegura, no entanto, que as divergências sejam sanadas.

Cid está hoje numa posição incômoda, à mercê da liderança de Camilo e dependente de Eudoro Santana à frente do PSB. Não tem controle partidário nem base de prefeitos, eleitos neste ano para se resguardarem por mais quatro à sombra do Abolição. As condições, como se vê, não são favoráveis, seja para apostas de alto risco, seja para rupturas que não levem em conta desvantagens estratégicas e numéricas. Esse, porém, é o quadro hoje. Até 2026 tudo pode mudar.

O jogo da presidência

Daí o cavalo de batalha que virou a candidatura de Fernando Santana à presidência da Assembleia. Como quem não quer nada, convém perguntar por que o PT não abre mão do posto. Uma hipótese: o chefe do Legislativo estadual está na linha de sucessão do Governo. Façamos então um exercício: em 2026, caso Elmano não saia para a reeleição e a vice Jade Romero (MDB) também se veja obrigada a se desincompatibilizar, a cadeira de governador cairia no colo do deputado que estivesse chefiando a Casa. Para o "camilismo", tanto melhor que, na eventualidade de isso ocorrer, o presidente seja alguém de estrita confiança.

Bolsonaro: o capitão do golpismo

A via-crúcis de Jair Bolsonaro está apenas começando. Indiciado pela PF ao lado de outros 36 nomes pela suspeita de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado e organização criminosa, o ex-presidente, se condenado, pode cumprir mais de 20 anos de prisão. Até lá, porém, há longo caminho. O indiciamento é apenas a etapa que deflagra a investigação.

Nela se constata que há indícios de autoria dos envolvidos e que a apuração deve prosseguir, aprofundando-se. Daqui em diante, Bolsonaro é oficialmente suspeito. Sob o ponto de vista político, os efeitos são imediatos. O principal é torná-lo ainda mais tóxico, o que pode agudizar as brigas pelo seu espólio eleitoral, favorecendo o surgimento de alternativas para 2026 e esvaziando a sua liderança.

 

Foto do Henrique Araújo

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