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Os recados de Evandro na posse
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Os recados de Evandro na posse

O novo prefeito alinhavou alguns pontos do que deve ser a sua agenda prioritária de mandato, entre os quais redução de desigualdades na cidade, foco na área da saúde e diálogo com a parcela do eleitorado que não lhe concedeu o voto no primeiro ou no segundo turnos
Tipo Opinião
FORTALEZA-CE, BRASIL, 01.01.2025: Posse de Evandro Leitão como prefeito de Fortaleza.  (foto: Fabio Lima/ OPOVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA-CE, BRASIL, 01.01.2025: Posse de Evandro Leitão como prefeito de Fortaleza. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Evandro Leitão (PT) tomou posse ontem como prefeito de Fortaleza com discurso que alinhavou alguns pontos do que deve ser a sua agenda prioritária de mandato, entre os quais redução de desigualdades na cidade, foco na área da saúde e diálogo com a parcela do eleitorado que não lhe concedeu o voto no primeiro ou no segundo turnos da disputa deste ano. Também enfatizou que, como ato inaugural da sua gestão, irá determinar a extinção da taxa do lixo, símbolo mais representativo da administração de José Sarto (PDT) do que o piso de "tijolinhos". Durante cerimônia no Paço num 1º de janeiro quente, com os convivas porejando suor sob camadas de roupa pesada e maquiagem, o petista elegeu como alvo o agora ex-prefeito, a quem se referiu indiretamente no curso de sua fala, sobretudo quando tratou dos problemas no IJF. Ausente, Sarto não pode se defender. O pedetista, que chegara cedo ao Palácio do Bispo, mas sem falar com a imprensa, manteve-se o tempo inteiro recluso, à espera de que o sucessor na cadeira desembarcasse na sede do Executivo após a posse na Câmara. Sem a presença de ex-secretários, muitos dos quais já empregados noutras prefeituras, o ex-prefeito não foi visto ali – apenas quando da transmissão efetiva do cargo, parte de um rito burocrático que carrega tantos significados em termos de expectativa de poder, tanto de quem perde quanto de quem ganha.

Evandro entre choro e riso

Previsivelmente emotivo, Evandro chorou algumas vezes na leitura do seu discurso nessa quarta, principalmente ao mencionar a numerosa família (já é avô a despeito da pouca idade). De passagem, no entanto, emitiu recados políticos importantes, tais como as saudações especiais ao governador Elmano de Freitas, ao ministro Camilo Santana e ao secretário Chagas Vieira (Casa Civil), a quem agradeceu nomeadamente, o que dá a medida do grau não só de alinhamento, mas de centralização estratégica a partir de agora. O prefeito, todavia, fez alusão ainda ao presidente Lula, não apenas porque a plateia lhe era simpática por lá, mas porque, na prática, os dados de 2026 já estão sendo jogados. Ao menos no Ceará, boa parte do eventual sucesso de Elmano e Lula na tentativa de se reelegerem depende do desempenho de Evandro à frente da Prefeitura de Fortaleza.

Um governo de duas cabeças

O secretariado de Evandro espelha integralmente o de Elmano sob o ponto de vista do desenho de suas funções. Estão lá, seja no âmbito estadual ou municipal, as mesmas secretarias (Proteção Animal, Mulheres, Articulação Política etc.), inclusive essa tendência de deslocar perfis semelhantes para postos equivalentes. É o caso do papel das vices, Jade Romero (MDB) e Gabriella Aguiar (PSD), que assumem o eixo social nos dois níveis de governo, avocando para si tarefas importantes nessa seara. Para além do tamanho e da estrutura das máquinas, que peca por um inegável gigantismo, a justificativa de ambos (prefeito e governador) é facilitar a comunicação e os fluxos de experiências e até de recursos entre o Abolição e o Paço. A ver, na prática, como tudo isso vai funcionar de fato.

A colcha de retalhos

Aos 45 minutos do 2º tempo, Evandro divulgou a lista dos titulares das Regionais. De Osmar Baquit (PDT) a Márcio Martins (União Brasil), passando por técnicos e políticos cujos perfis eram mais ou menos esperados (já se sabia que um "nepo baby" seria escalado, por exemplo), o prefeito mostrou-se disposto a vedar desde já os poucos espaços que ainda restam à oposição, mais restrita agora do que antes aos bolsonaristas Bella Carmelo, Priscila Costa, Inspetor Alberto e Julierme Sena. Esse bloco, pelo que se viu ontem na Câmara, parece satisfeito com esse quinhão minoritário, contanto que tenha condições de bradar o nome do ex-presidente para 2026 – noves fora a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030.

Foto do Henrique Araújo

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