Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Não são poucas as dificuldades, entre as quais está a de assegurar a formação ou continuidade do bloco que se esboçou no ano passado, mas agora sem o manejo da máquina administrativa
A oposição tem um desafio e tanto pela frente no Ceará: reorganizar-se após duas derrotas em sequência, uma em 2022 e outra em 2024, das quais saiu sem encontrar o caminho de casa. Não são poucas as dificuldades, entre as quais está a de assegurar a formação ou continuidade do bloco que se esboçou no ano passado, mas agora sem o manejo da máquina administrativa, isto é, sem a efetiva distribuição de espaços de poder, moeda de troca dos gestores para a construção de suas bases. Tendo como horizonte a disputa de 2026, na qual o governador Elmano de Freitas (PT) deve concorrer a novo mandato, figuras como os ex-prefeitos Roberto Cláudio e José Sarto (PDT), o prefeito de Juazeiro Glêdson Bezerra (Podemos), o ex-vice Élcio Batista (PSDB) e o ex-deputado federal Capitão Wagner (União) conduzem tratativas que podem avançar para uma composição competitiva. De antemão, sabe-se que Wagner teria interesse em retornar para a Câmara Federal e que Eduardo Girão (Novo) não deve postular recondução, abrindo vaga a quem deseje entrar na briga pelo Senado. Com André Fernandes (PL) fora do páreo por limitação da idade, restaria então uma questão de partida: quem, entre os nomes postos hoje, reuniria condições de encabeçar o grupo no pleito para o Abolição?
O papel de RC
Desde o fim das eleições de outubro último, Roberto Cláudio vem fazendo cálculos partidários: permanecer no PDT ou deixar o partido para se filiar a uma legenda de fato de oposição ao condomínio de forças cujo síndico é Camilo Santana (PT)? A preço de agora, a continuidade do ex-prefeito na sigla trabalhista é encarada como possibilidade remota, salvo um cavalo de pau, seja do PDT ou de RC. Como nem uma coisa nem outra devem ocorrer, a hipótese mais provável é de desfiliação do ainda pedetista, quer para ingressar no União Brasil, quer no PSDB, antigo endereço do aliado Ciro Gomes - não se descarte um ressurgimento do ex-presidenciável em meio à confusão que se abaterá sobre a direita e centro-direita no Brasil na esteira da prisão de Jair Bolsonaro neste ano. Dito isso, RC tem amiudado conversa com o partido de Wagner e do deputado federal Danilo Forte. Entre almoços e café da manhã, examina os cenários e estreita os laços.
Investidas contra o União
Não há dúvida de que o União Brasil, noves fora estar na base de Lula e deter três ministérios, é o principal adversário do governismo local, mesmo com a tradição tucana de crítica às gestões do PT. Daí a série de investidas para tomar o controle da agremiação sob direção estadual de Capitão Wagner. A adesão do vereador Márcio Martins (União) à administração de Evandro Leitão, da qual passa a fazer parte como secretário, é apenas o lance mais recente. Houve outros, tais como o flerte do deputado Júnior Mano (hoje no PSB) com a executiva nacional e, antes de tudo isso, a queda de braço que Chiquinho Feitosa travou com Wagner na tentativa de assumir a presidência do UB no Ceará. Finalmente, há os acenos do governo de Elmano ao deputado estadual Felipe Mota (União), autor do projeto de pulverização de agrotóxicos mediante uso de drones que foi tão prontamente acolhido pelo petista.
Evandro veste o colete
Logo no primeiro fim de semana como prefeito, Evandro vestiu a persona do tocador/fiscalizador de obras. Trajando colete laranja, típico do chefe operoso (que contrasta com a imagem projetada por Sarto), visitou bairros da cidade no sábado, 4, um dia depois da reunião do secretariado na qual pediu a seus auxiliares que gastem sola de sapato nas ruas da cidade. Ou seja, que vejam e sejam vistos pela população, cuja principal queixa em relação ao antecessor era de que o então gestor se manteve ausente durante muito tempo, uma lacuna que nem a superexposição da campanha eleitoral conseguiu sanar.
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