Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A despeito de quaisquer notícias boas que tenha a dar a respeito de outros setores da administração, a segurança pública é área sensível e com potencial para comprometer os planos do chefe do Abolição
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO
Fortaleza- CE, Brasil, 10-01-25: Elmano de Freitas acompanha o início de operação das polícias no CISP. (Fotos: Lorena Louise / Especial para O POVO)
Em temporada pré-eleitoral, o governador Elmano de Freitas (PT) terá apenas uma chance para reduzir os números de violência no Ceará entre 2025 e 2026, ano em que deve concorrer a novo mandato. Ao final da corrida pelo voto, quando já se souber se terá havido êxito ou não do petista na tentativa de se reeleger, o Executivo irá divulgar os dados relacionados ao período, então sem qualquer efeito sobre o pleito. Daí a grande aposta neste ano, ou seja, no trabalho desenvolvido desde agora e cujos resultados não podem tardar, sob pena de embaraçarem totalmente os planos do chefe do Abolição, a despeito de quaisquer notícias boas que tenha a dar a respeito de outros setores da administração.
Na sexta-feira última (10), por exemplo, a Secretaria da Segurança Pública apresentou estatísticas desanimadoras: pela primeira vez desde 2020, conforme reportagem do O POVO, o "Estado registrou aumento nos índices de assassinatos". Foram 3.272 crimes do tipo em 2024, ante 2.970 no ano anterior. É uma marca e tanto: 10,16% de crescimento nos homicídios, ainda conforme o jornal, interrompendo recuo discreto, mas significativo, a partir da metade do segundo mandato de Camilo Santana (PT), antecessor de Elmano no posto. Trata-se de revés em área sensível e com potencial para comprometer o principal trunfo do bloco governista tanto em 2022 quanto no ano passado, qual seja, o de que o binômio continuidade/alinhamento produziria por si melhora no quadro geral da criminalidade no Ceará. O buraco, contudo, é mais embaixo.
Os sinais de Evandro
Próximo dos 15 dias de governo municipal, o prefeito Evandro Leitão (PT) tem ido às ruas não apenas como fiscal de obras ou de mutirão de limpeza, mas para mostrar, na prática, o efeito de uma gestão que, de acordo com ele, representa uma "herança maldita" para a capital cearense (do ex-chefe do Paço, José Sarto). Afinal, estimar um rombo fiscal de R$ 2 bilhões, por superlativo que seja, é algo intangível para o eleitorado da cidade. É diferente de apontar in loco que, no Hospital da Mulher, um refeitório funciona precariamente e uma piscina para fisioterapia se mantém inativa, além de outros problemas estruturais (portas danificadas etc.). Desde que passou a despachar no Palácio do Bispo, Evandro vem se empenhando nessa agenda, calibrando discurso que o apresenta como esse grande "síndico" de Fortaleza, enquanto capitaliza com o desgaste dos quatro anos de Sarto.
Foto: Beatriz Boblitz/Divulgação/Prefeitura de Fortaleza
Prefeito Evandro Leitão em vistoria do Hospital da Mulher
Sem lenço nem documento
Dias atrás, expus o desconforto de gente próxima do pedetista para quem, no entanto, defendê-lo hoje tornou-se tarefa difícil, seja pelo desastre eleitoral que foi 2024, seja porque, neste momento, o instinto de autopreservação se impõe àqueles que ainda acalentam sonhos parlamentares. O resultado é o que se vê: Sarto malhado em praça pública sem que vivalma se compadeça e lhe tome as dores, passados somente dez dias desde a transmissão do cargo. No entorno do ex, a leitura é que a administração, mal avaliada e punida severamente nas urnas, não valeria o esforço, sobretudo porque os adversários detêm agora o controle da máquina, o que lhes garante vantagem na disputa pela opinião. Há outro fator, todavia: 2026 está logo ali. Para tanto, talvez seja mais conveniente ensaiar desde já um afastamento profilático.
Expectativa no TCE
Dentro e fora do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a expectativa se dá em torno de quem deve ser o relator ou a relatora das contas do governo de Elmano relativas a 2024. Entre os atuais membros, há nomes já descartados de antemão do rodízio que se estabelece internamente, a exemplo do último a cargo de quem ficou a missão, que é excluído então do sorteio. Qualquer eventual declaração de impedimento, seja por que razão for, só se manifesta a posteriori, como gesto de competência estritamente pessoal do (a) conselheiro (a).
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