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Bolsonaro e o fantasma da prisão (de ventre)
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Bolsonaro e o fantasma da prisão (de ventre)

Noves fora toda essa escatologia, o fato é que, ao longo de suas quase 300 páginas, Paulo Gonet descreveu em minúcias uma tentativa de golpe de Estado
Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (Foto: EVARISTO SAAFP)
Foto: EVARISTO SAAFP Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

“Caguei para a prisão”, declarou Jair Bolsonaro, cujo sistema digestivo se notabilizou por constipações em série, incapacitado por semanas de fazer exatamente o que o ex-presidente disse agora que faria diante da possibilidade de ficar atrás das grades depois da denúncia da PGR, apontando-o como pivô de uma organização criminosa.

É uma nota irônica que essa primeira manifestação de desimportância do ex-mandatário tenha recorrido ao que ele frequentemente se vê impedido de levar adiante, ou seja, de evacuar, assustado com outra prisão (a de ventre), o que talvez esteja na base de sua fixação pelo cocô e suas circunstâncias (basta consultar os anais de sua administração).

Noves fora toda essa escatologia, o fato é que, ao longo de suas quase 300 páginas, Paulo Gonet descreveu em minúcias uma tentativa de golpe de Estado, que, se não logrou êxito, foi por razões alheias à vontade de Bolsonaro e de seu entorno, o que inclui parte do comando das Forças Armadas, preservadas pelo procurador-geral da República em seu relatório como parte do nosso pacto de acomodação atávico.

Espécie de tutorial do crime, o documento, já encaminhado ao STF para acolhimento ou rejeição, expõe com riqueza de detalhes o passo a passo da trama golpista, situando-a cronológica e espacialmente, identificando o papel que cada um dos implicados na história teve e seus desdobramentos.

Nesse trabalho de genealogia do golpe, há um rigoroso encadeamento lógico que remonta a 2021 e segue em 2022, operado por diferentes agentes políticos, civis e militares, que resulta no 8 de janeiro de 2023, epicentro da energia social mobilizada pela falange que desembarcou em Brasília e logo se deu as mãos para levantar aqueles acampamentos terroristas – sob ouvidos moucos do Exército.

Pela fartura de elementos, é difícil supor que Bolsonaro alcance sucesso em se desembaraçar das acusações que pesam contra si, cujas penas, somadas, ultrapassam os 40 anos de prisão, inviabilizando-o por completo não apenas para 2026.

Daí que outras lideranças da oposição, sempre pragmáticas, já se tenham antecipado para discutir o cenário do ano que vem: afinal, a insistência do ex-capitão em se manter no páreo não pode atrapalhar o jogo eleitoral?

Raposas como Kassab e outros não devem gastar muito tempo para chegar a uma resposta.

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