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Apoio de Cid a Júnior Mano tensiona PSB
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Apoio de Cid a Júnior Mano tensiona PSB

Mano não é nome de consenso sequer na legenda, menos ainda na base, que teme avanço de investigação no Supremo da qual o parlamentar pessebista é alvo no caso das emendas
JÚNIOR Mano é o único deputado federal do PSB no Ceará, partido que tem Cid como maior liderança no Estado (Foto: Reprodução/Instagram - Fernanda Barros/O POVO)
Foto: Reprodução/Instagram - Fernanda Barros/O POVO JÚNIOR Mano é o único deputado federal do PSB no Ceará, partido que tem Cid como maior liderança no Estado

O apoio declarado pelo senador Cid Gomes ao deputado federal Junior Mano, agora pré-candidato ao Senado, criou tensão dentro do próprio partido, o PSB. Por duas razões: Mano não é nome de consenso sequer na legenda, menos ainda na base, que teme avanço de investigação no Supremo da qual o parlamentar pessebista é alvo no caso das emendas.

O outro ponto de instabilidade diz respeito ao processo que deve resultar na expulsão do prefeito de Choró, Bebeto Queiroz (PSB), foragido da Justiça há pelo menos três meses. Próximo do gestor, que não chegou a assumir o mandato, o deputado exerceria influência internamente para tentar evitar que o colega de partido seja desfiliado na esteira das suspeitas que recaem sobre ele em ação conduzida também pela PF.

Quando anunciou que Mano seria sua indicação ao Senado caso o PSB tivesse uma vaga na chapa governista, Cid já estava a par desses episódios que têm desgastado a sigla socialista. Para interlocutores, o fato de que o ex-governador tenha resolvido lançar o deputado foi uma maneira de garantir pressão interna e externamente, mas também um lance de olho na base de prefeitos que Mano consolidou desde 2024.

STF e o caso das emendas

Ainda sobre o assunto, o STF aguarda a conclusão de relatório da PF em relação a supostos desvios de recursos de emendas no Ceará. O prazo para encerramento desse levantamento se daria no começo de março, conforme fonte que acompanha as investigações. Atualmente, a relatoria dos trabalhos está a cargo do ministro Gilmar Mendes, que deve se dedicar à matéria nos próximos meses.

Por razões diversas, nem todas inteiramente claras até aqui, esse processo tem eletrizado a política cearense. Não se sabe, por exemplo, qual a real extensão do esquema que foi revelado em denúncia apresentada ao MPCE pela então prefeita de Canindé, Rozário Ximenes, do Republicanos, mesmo partido de Chiquinho Feitosa, cotado para postular vaga no Senado em 2026 com aval do ministro Camilo Santana. Por ora, a única certeza é de que o andamento da ação no Supremo deve acelerar os trâmites, com inevitável repercussão política local e nacional.

Farra dos conselhos

É prática corrente na administração pública que agentes de governo turbinem seus salários com cargos em conselhos, cujos salários giram em torno de R$ 3 mil a R$ 5 mil mensais. Sob ângulo da ética, não é bonito, mas é assim. No Ceará não é diferente. Uma rápida pesquisa pela composição de colegiados fiscais e administrativos de órgãos diversos da estrutura do Governo do Estado (autarquias e fundações), para ficar apenas nesse ente, revela uma infinidade de nomes já alocados em postos muito bem remunerados do Abolição, boa parte deles em secretarias.

Há, inclusive, duplicidade, ou seja, o mesmo integrante do governo aparece como participante de um dos conselhos do Porto do Pecém e outro da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece). Não se trata de situação excepcional. Outro quadro está simultaneamente escalado num conselho da Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa) e noutro do Pecém.

No Ceará é assim

No geral, cada autarquia, fundação ou empresa mista do estado constitui um conselho administrativo e outro fiscal, para o qual convoca membros da estrutura de gestão, isto é, os vencimentos como conselheiro funcionam como um adicional ao fim de cada mês, trimestre ou semestre, a depender do regimento do órgão.

Quase todas as companhias da administração pública cearense se organizam dessa maneira. Cito apenas cinco cujos conselhos valem uma espiada: Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Companhia Administradora da Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE) e Companhia de Desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, além de Adece e Ceasa.

 

Foto do Henrique Araújo

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