Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Trata-se de resposta extensa, um tanto elaborada, com gráficos e uma preparação mínima, o que sugere disposição do ex-chefe do Paço para voltar ao tablado político
Foto: FÁBIO LIMA
JOSÉ Sarto (PDT) rebate o acumulado de críticas feitas pelo sucessor, Evandro Leitão (PT)
Depois de um hiato de quase três meses, o ex-prefeito José Sarto (PDT) foi às redes para rebater o acumulado de críticas feitas pelo sucessor, Evandro Leitão (PT). O gesto chama atenção menos pelo conteúdo - Sarto nega que tenha deixado rombo fiscal - que pela forma, ao assumir de vez discurso antipetista, numa tentativa de pavimentar o caminho da oposição. O script do desagravo do pedetista começa pela carestia dos alimentos, passa pela segurança pública e se encerra com uma autodefesa cujo roteiro inclui o onipresente piso de "tijolinho" e as obras da avenida Heráclito Graça. O arremate se dá em tom provocativo, com um convite para que Evandro se concentre no trabalho.
Trata-se de resposta extensa, um tanto elaborada, com gráficos e uma preparação mínima, o que sugere disposição do ex-chefe do Paço para voltar ao tablado político a fim de fazer o que seus ex-aliados (hoje quase todos na base governista) não conseguiram ou não se sentiram estimulados a fazer, ou seja, apresentar os ganhos da administração anterior. A reentrada de Sarto em cena, contudo, diz mais sobre 2026 do que sobre 2024. Não deve alterar em nada, por exemplo, o arranjo de forças no Legislativo municipal, no qual o atual gestor consolidou uma maioria para lá de confortável. Mas é uma voz oposicionista que se soma ao bloco anti-PT em busca de se viabilizar eleitoralmente para o ano que vem.
Luizianne x Evandro
Não foi por acaso que os grupos de Luizianne Lins e de Evandro mantiveram agendas nesse fim de semana. O horizonte de ambos é o mesmo: as eleições internas do PT, em julho próximo. Embora não integre qualquer corrente desde que se filiou à agremiação, o prefeito é pivô da formação de um novo coletivo, ainda sem nome, mas com lançamento previsto já para 29/3. Dele fazem parte os deputados Guilherme Sampaio e Acrísio Sena, o vereador João Aglaylson e o ex-deputado Antônio Carlos, cujo nome foi apresentado como postulante a presidente da direção do PT em Fortaleza. Noutra ponta, o chamado "campo de esquerda", integrado por LL, Deodato Ramalho, Liliane Araújo e outras, pretende reaver o comando partidário local, de modo a se estabelecer como um contraponto ao bloco hoje encabeçado por Camilo Santana.
Cinco anos de Covid
Num 17 de março cinco anos atrás, lembro de encarar o computador pessoal para uma jornada de trabalho remoto com o qual não tinha qualquer familiaridade e que eu presumia que seria passageiro. Estava enganado, como qualquer um àquela altura. Seria uma temporada não apenas longa, mas dolorosa, capaz de alterar profundamente os modos de organização da sociedade. Ao menos era nisso que costumávamos acreditar. A Covid fez 700 mil vítimas. No Ceará, os mortos se contaram aos milhares, distribuídos desigualmente entre as classes. Os mais vulneráveis, como se sabe, foram os primeiros. Logo um vocabulário se impôs: protocolo, lockdown, isolamento social etc., toda uma gramática que emergia do quadro pandêmico, reformulando gestos e falas, numa reeducação forçada dos corpos. Do dia para a noite, hospitais de campanha brotavam no gramado de estádios. A paisagem mudara. Nesse "novo normal", como se apressou a chamar esse período, a sirene da ambulância cortando a madrugada já não causava estupor.
A pandemia entre nós
Os reflexos no Ceará dessa crise sanitária, no entanto, são um capítulo à parte, ainda por ser narrado em pormenor - seus personagens, tensões e enredos, os bastidores na negociação de decretos, o recuo (depois revisto) no isolamento, enfim, uma série de decisões mais ou menos difíceis e que resultaram de choques entre os interesses público e privado, entre ciência e política. Quase todos os protagonistas estão por aí. Um deles é Camilo, governador à época. O outro é Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Cabeto, então secretário da Saúde.
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
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