Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Sem Cid e Luizianne presentes aos atos de visita de Lula a Fortaleza, qual a leitura para as eleições 2026
Foto: AURÉLIO ALVES
LULA em Fortaleza: ausências mostram complexidade do cenário
Tanto quanto os presentes, os ausentes à visita do presidente Lula ao Ceará dão o que pensar. É o caso do senador Cid Gomes (PSB), que tem recorrentemente evitado participar de eventos com o petista no Estado, seja porque não pretende sinalizar qualquer adesão à reeleição do chefe do Executivo, seja porque sua agenda sempre calha de estar indisponível em datas de compromisso de Lula em território cearense.
O que isso diz sobre as eleições de 2026? Que Cid é hábil o suficiente para não dinamitar pontes, tampouco confundir-se excessivamente com um nome de base partidária tão umbilicalmente ligado ao presidente. De resto, talvez haja sempre o receio de que se repita o que se viu em 2018, quando, a uma plateia de apoiadores entusiasmados do então ex-mandatário (à época condenado na Lava Jato por um plenipotente juiz), Cid pespegou: "Lula está preso, babaca".
Por onde andará...
Mas não foi apenas o senador a se fazer notar pelo desfalque no palco/palanque da quarta-feira, 19. Ex-prefeita e hoje deputada federal, Luizianne Lins também passou longe do campus da Uece no Itaperi, onde se inaugurava o Hospital Universitário do Ceará (HUC), equipamento que está para o governador Elmano de Freitas o que o Hospital da Mulher esteve para LL.
Tal como Cid, a petista demarca com seu afastamento um reconhecimento, mesmo que tácito, da divisão interna que atravessa o PT hoje no Ceará, sobretudo na Capital, com dois grupos cindidos em disputa pelo comando da sigla. Daí que a parlamentar venha escasseando suas participações ao lado de lideranças da agremiação - a exceção foi justamente o ato com Lula e Evandro Leitão (PT) durante o segundo turno da corrida pela Prefeitura de Fortaleza, nos idos de outubro de 2024.
O que mostra o retrato
Por outro lado, a "selfie" de Lula rodeado de aliados mapeia com exatidão esse novo ecossistema político do Ceará, cujo centro gravitacional é o ministro Camilo Santana (Educação), secundado pelo governador Elmano e sua vice Jade Romero e pelo prefeito Evandro.
Integram o quadro ainda os presidentes das casas legislativas Leo Couto (Câmara) e Romeu Aldigueri (Assembleia), fechando o circuito que abarca Executivo e Parlamento nas duas esferas de representação, municipal e estadual - sem falar nos postos-avançados à frente de organizações partidárias.
Quem sabe por isso tenha partido do próprio Lula a ideia de plantar uma dúvida sobre o excesso de otimismo que cerca toda unanimidade, lembrando que "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" (mais ou menos como tio Ben aconselhando o jovem super-herói).
É de bom tom?
O retrato de Lula e sua turma, contudo, revela mais do que aquilo que aparentemente mostra. Dele faz parte, por exemplo, Onélia Leite Santana, ex-secretária e agora conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Como se sabe, o TCE é o órgão ao qual compete a análise criteriosa e desapaixonada das contas de governos e prefeituras, além de secretarias estaduais, entre as quais a da Saúde - cuja titular, por sinal, também foi capturada pelo celular que registrou a foto oficial do "Ceará três vezes mais forte".
Ora, não é segredo que Onélia é casada com Camilo. Disso se conclui naturalmente que não seria absurdo vê-la a seu lado - salvo se o contexto (digamos que um evento eminentemente político) desencorajar. Era o caso de ontem? Há quem diga que sim. De minha parte, acho que convém recuperar uma piada já velha nas redes: quer postar? Posta. É de bom tom? Não. Parafraseando: quer participar? Participa. É de bom tom? Não mesmo.
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