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Luizianne na disputa pelo comando do PT
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Luizianne na disputa pelo comando do PT

A intenção de membros do "campo de esquerda", o bloco que se formou após a disputa de 2024 entre LL e Evandro Leitão, é apresentá-la como concorrente à direção estadual, ainda a cargo de Antonio "Conin" Filho, um aliado do deputado federal e líder do governo Lula, José Guimarães
Tipo Opinião
Deodato Ramalho afirma que campanha de Evandro Leitão tem de
Foto: Matheus Dantas em 03/04/2017 Deodato Ramalho afirma que campanha de Evandro Leitão tem de "avermelhar" campanha e Luizianne, ser estimulada a se engajar em prol do nome petista em Fortaleza

O nome da deputada federal Luizianne Lins começou a circular mais seriamente para comandar o PT no Ceará. A intenção de membros do "campo de esquerda", o bloco que se formou após a disputa de 2024 entre LL e Evandro Leitão, é apresentá-la como concorrente à direção estadual, ainda a cargo de Antonio "Conin" Filho, um aliado do deputado federal e líder do governo Lula, José Guimarães. E aqui entram as costuras políticas mais complexas: há entendimentos avançando aos poucos entre o grupo de Guimarães e o do campo recém-instituído de Elmano de Freitas e Camilo Santana, que, salvo reviravolta, deve apresentar tanto um quadro para presidir o PT em Fortaleza (o mais cotado é o ex-"luizianista" Antônio Carlos) quanto apoiar um petista para a executiva cearense. Esse postulante, claro, tenderia a ser um indicado por Guimarães, caso o parlamentar aceite os termos dessa composição, que passa ainda pela ocupação de vagas na chapa governista no ano que vem. Leia-se: o deputado é uma liderança influente no interior, tendo precedência sobre as demais, mas não pode prescindir de apoios importantes.

O fator Guimarães

Se se inclinar a selar um pacto com Luizianne, Guimarães compra uma briga com a ala "camilista" no estado, que detém mando de campo no desenho da chapa que vai pleitear voto em 2026 - como se sabe, é desejo do parlamentar tentar uma cadeira no Senado com aval do ministro da Educação, que já disse que o correligionário representaria bem os interesses do Ceará na Câmara Alta. Por outro lado, se encaminha uma aliança com o bloco de Elmano/Evandro (criado em resposta ao da deputada e com previsão de lançamento nesta semana), terá de enfrentar internamente o grupo de LL, numa eleição aberta e direta marcada para o mês de julho. Uma alternativa a essa batalha intrapartidária seria uma pacificação entre os dois grandes setores nos quais o PT se divide localmente, mas isso dependeria necessariamente de uma atenuação de arestas entre a ex-prefeita de Fortaleza e Camilo - pela qual interlocutores na legenda dizem que é melhor esperar sentado.

Elmano e o discurso da segurança

Em comentário à morte de dois criminosos durante enfrentamento com PMs, o governador Elmano escreveu ontem nas redes: "Entre um policial ser vítima e bandidos tombarem, que eles levem sempre a pior". É uma modulação evidente de discurso, com recrudescimento do vocabulário e uma defesa mais enfática da ação policial, ressalvando-se os casos em que se dê fora da lei. Embora talvez possa ser lida como natural diante dos acontecimentos recentes, é novidade considerando-se que se trata de uma gestão de esquerda, do PT, que sempre teve dificuldades de se posicionar em relação à pauta da segurança. Mas esse também é o modo Elmano já em campanha pela reeleição, cuja plataforma deve passar por uma reformulação da agenda (e da retórica) no setor. O chefe do Abolição sabe que o problema da criminalidade não se combate como o da falta de leitos - para o qual a saída é recurso e canteiros, como mostrou com o HUC.

Governador já tem slogan

Outro indício de que 2026 começou é o slogan "não para, não para, não para", numa referência ao cardápio de obras do Executivo - as chamadas "entregas". A frase é a transposição tal e qual do bordão eternizado pelo saudoso Alan Neto, cujo empréstimo tomarei como homenagem do Governo à lenda do jornalismo esportivo. Nas peças veiculadas até agora, sobressaem os dizeres, já repetidos por secretários, que pretendem funcionar como uma tradução legível dos quatro anos de Elmano, administração cuja principal marca deve ser, conforme fonte do Abolição, o "trabalho incansável".

 

Foto do Henrique Araújo

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