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O que emperra ida de Roberto Cláudio ao União Brasil
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O que emperra ida de Roberto Cláudio ao União Brasil

A migração do ex-prefeito Roberto Cláudio para um partido de espectro ideológico oposto ao que esteve ao longo de sua trajetória tem muitos desafios e variáveis
EX-PREFEITO Roberto Cláudio  (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação EX-PREFEITO Roberto Cláudio

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O ex-prefeito Roberto Cláudio, ainda no PDT, tem sido cortejado por mais de um partido, entre os quais o União Brasil de Capitão Wagner e o PP de Antonio José Albuquerque, o AJ, filho do secretário estadual Zezinho Albuquerque. Do lado do PP, por exemplo, houve convite formal e reunião com RC, mas sem avanço. Como se sabe, a sigla aprovou federação com o UB, que, segundo estimativas, deve se concluir no final do mês de abril.

Uma possível ida do pedetista para uma dessas legendas, evidentemente, prevê a condição de dirigir o bloco no Ceará - é o que ainda falta ao ex-mandatário (uma estrutura robusta), cujo discurso já se modulou, hoje convergindo não apenas para uma agenda mais à direita, digamos assim, mas sobretudo para adoção de uma performance muito familiar para esse campo político.

Trocando em miúdos: enquanto examina as cartas à mesa, RC já opera para tentar atenuar uma eventual rejeição do eleitorado a essa mudança de rota, qual seja: de candidato/gestor socialista e trabalhista entre 2012 e 2020, quando elegeu José Sarto como sucessor no mesmo projeto de Camilo Santana; a um nome promissor do polo adversário, agora membro de um dos principais partidos da oposição (que, por sua vez, resultou da fusão entre DEM e PSL, o antigo endereço de Jair Bolsonaro e agremiação pela qual ele se elegeria em 2018).

A aposta do ex-prefeito

Há quem considere que tudo isso são movimentos naturais da política partidária. Existe verdade nisso, claro, mas mesmo essas apostas contêm limites, estabelecidos pelo entendimento do eleitorado do que seja razoável.

Caso se consume a migração do PDT para o União, é essa variável que Roberto Cláudio descobriria na prática: se essa base, situada noutra área do espectro ideológico, tenderá a identificá-lo como um representante orgânico do conservadorismo no Ceará, a ponto de encarnar os interesses desse grupo, assim como Wagner e André Fernandes (PL).

Esse reposicionamento no tabuleiro não é tão simples quanto parece, requerendo de antemão uma etapa de transição durante a qual RC poderia ir sentindo a temperatura da água antes do mergulho. Talvez seja isso que esteja fazendo neste momento.

Ciro no partido de Wagner?

Uma outra incógnita diz respeito ao ex-presidenciável Ciro Gomes, a quem RC também deve estar consultando antes de bater o martelo a respeito de qualquer rumo a tomar. Sobre isso, restam mais perguntas que respostas: Ciro acompanharia o aliado no desembarque no União, dirigido por um desafeto (Wagner)? O ex-prefeito deixaria o PDT mesmo sem Ciro, que vem sendo pressionado a se candidatar à Presidência novamente?

Os deputados estaduais pedetistas (Antonio Henrique, Queiroz Filho e Cláudio Pinho) assinariam a ficha do União? Nenhuma dessas negociações é fácil, principalmente porque incidem sobre a montagem de chapas de parlamentares para 2026 - o União, a esta altura, já deve ter seus nomes para tentar eleger ou reeleger, por exemplo.

As negativas de Elmano e Camilo

Despertam curiosidade no próprio arco de sustentação de Elmano de Freitas e de Camilo as negativas segundo as quais a dupla petista não teria qualquer ligação com o "campo popular", uma ala recém-formada no PT, com data para lançamento de seu candidato à direção da legenda em Fortaleza.

Lá atrás, em janeiro ou fevereiro, ainda na fase de formulação do bloco, era usual ouvir de interlocutores do Abolição e do Palácio do Bispo que essa nova composição (criada em resposta ao "campo de esquerda", de Luizianne Lins) seria integrada pela "linha de frente" do governismo no Legislativo (estadual e municipal), de modo a disputar o comando do partido com as demais forças.

 

Foto do Henrique Araújo

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