Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A despeito de problemas insanáveis em prazo tão curto, Evandro se mostrou atento às demandas de um município às voltas com uma dificuldade atávica em relação a questões mais específicas, tais como moradia, saúde e segurança
O prefeito Evandro Leitão (PT) chegou aos 100 dias ainda sob o espírito que governou sua posse, ou seja, projetando um diagnóstico pouco alvissareiro do quadro geral da capital cearense em termos de finanças e naturalmente explorando o bordão segundo o qual a "culpa é do Sarto" - cunhado durante a campanha por André Fernandes (PL), agora aliado do grupo do ex-prefeito, com Roberto Cláudio (PDT) à frente do bloco.
Nesse intervalo, o novo chefe do Executivo trocou a camisa social branca de mangas compridas, "dress code" do "camilismo", pelo colete laranja de gestor operoso e presente. A intenção era estabelecer de pronto uma marca, que se pode resumir por zelo. A despeito de problemas insanáveis em prazo tão curto, o sucessor de Sarto se mostrou atento às demandas de um município às voltas com uma dificuldade atávica em relação a questões mais específicas, tais como moradia, saúde e segurança.
Sem resolvê-las ainda, pareceu empenhado em buscar solução. Certo de que disporia de margem estreita para atuar num primeiro momento, Evandro soube manejar fragilidades da administração anterior. Desse modo, deixou-se fotografar em visitas a obras diversas, durante limpeza de canais e outras do tipo. Noutra frente do processo de produção de uma autoimagem positiva, trabalhou para justificar a tese de que sua vitória teria valido a pena se se demonstrasse que o alinhamento com os governos de Lula e Elmano renderia frutos.
O prefeito e a agenda de direita
Politicamente, Evandro fez movimentos curiosos nesses 100 dias, o primeiro dos quais sem dúvida se deu ainda na montagem do secretariado, quando incorporou frações da base bolsonarista em Fortaleza. Seja porque estivesse escaldado com o resultado apertado do pleito, seja porque seu modo de atuar se governe por esse princípio de uma maioria sem tanto critério, o prefeito começou a asfixiar a oposição antes mesmo de iniciado o jogo.
Hoje, para além de ex-aliados de Fernandes ou de Sarto/RC que integram a gestão, o petista também mobiliza uma agenda cuja defesa esteve a cargo de seu adversário na campanha, a saber, a criação de faixas exclusivas para motos, a flexibilização das vias para ônibus e outras mais. Sobretudo essas, contudo, acenam a um eleitorado para o qual os espaços de coletividade são um ataque aos direitos do indivíduo.
O dilema das faixas de ônibus
Exemplo disso foi a manifestação de compromisso da Prefeitura de Fortaleza, expressa pelo chefe do Paço, com um estudo para examinar a viabilidade de uso dos corredores de ônibus em horários fora do pico de deslocamento na Capital. Trata-se de sugestão aparentemente razoável - apenas em tese.
Vista de perto, a medida soa perigosa, exatamente porque pode significar o desmonte de uma lógica cuja aplicação deveria estar sendo alargada, e não reduzida, sob pretexto de que num recorte da manhã e da tarde o fluxo de ônibus se reduz - talvez o nó do problema seja esse, e não a ociosidade dos corredores.
Isto é, uma oferta insuficiente de transporte para uma demanda sempre crescente de usuários cria um vazio que depois servirá como desculpa para argumentar que essas vias estão sendo subtilizadas.
A resposta da bancada do PDT
Escrevi ainda ontem que era incerto o caminho a seguir pelos deputados do PDT que compõem a ala de RC, se um desembarque em bloco no União Brasil de Capitão Wagner ou permanência na legenda trabalhista. Menos de 24 horas depois, e as articulações parecem ter feito a roda das conversas girar mais rápido. Digamos que há entendimento avançado entre o grupo e o deputado federal André Fernandes, hoje a maior liderança do campo anti-PT.
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