Logo O POVO+
Governo quer evitar novo "efeito Izolda"
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Governo quer evitar novo "efeito Izolda"

Em caso de reeleição de Elmano, pode-se repetir o cenário de 2022, quando o ex-governador Camilo Santana deixou o cargo para concorrer às eleições. A ser o caso, a saída de Elmano exigiria já agora uma minuciosa negociação sobre o nome a vice
GOVERNADOR Elmano de Freitas (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR GOVERNADOR Elmano de Freitas

Embora o calendário sugira o contrário, o tempo da política já está em 2026, com atores às voltas com as questões de praxe. Do lado da oposição, o desafio é pavimentar o caminho para um bloco coeso (e sobre isso talvez haja novidades em breve). Da parte do governismo, para além de todo o debate em relação às vagas para o Senado, há um outro pairando, insolúvel: quem será vice de Elmano de Freitas (PT) na briga pela reeleição?

Trata-se de costura não menos espinhosa, por um motivo: em caso de vitória ano que vem, Elmano sairia do Abolição ao final do segundo mandato (em 2030) para postular seja lá o que fosse, tal como se deu com o então governador Camilo Santana. Novamente, parece horizonte distante ainda, mas, a despeito disso, o cálculo futuro impõe decisões já agora.

Veja-se o que houve em 2022, quando a vice Izolda Cela assumiu o Executivo e, amparada na prerrogativa de concorrer a uma recondução, travou disputa no PDT - e perdeu a indicação para Roberto Cláudio. Escaldado, o grupo governista quer evitar que algo semelhante se repita.

Por que isso é importante? Porque o vice escolhido hoje terá de firmar alguns compromissos, quer de postular mais quatro anos, quer de abrir mão de se apresentar como nome para o pleito quando o governador precisar deixar a administração. É possível que isso limite o rol de potenciais quadros para compor a chapa ao lado do gestor petista.

Oposição fraca?

Dias atrás, o governador Elmano se permitiu um exercício de otimismo ao projetar que a oposição chegará fragilizada em 2026. Considerando-se variáveis mais imediatas, como número de prefeituras, é razoável supor que seus adversários terão dificuldades para entrar na peleja com paridade de armas. Ocorre que há brechas para alteração desse cenário.

Uma delas deriva da conjuntura nacional, na qual uma candidatura presidencial competitiva no campo opositor demandaria palanques locais igualmente fortes, mais ainda se o candidato for Tarcísio de Freitas (Republicanos). Outra movimentação que teria grande efeito sobre os arranjos estaduais é a negociação em andamento entre PP e algumas siglas (PSD e o próprio Republicanos) com intuito de constituir uma federação.

Caso essa articulação prospere, o bloco anti-PT, ligado ao governador de São Paulo, lançaria candidato ao Abolição, num arco que somaria capital expressivo. Tudo isso para dizer: a oposição está debilitada hoje. Pode não estar ano que vem, a depender de como se deem alguns acertos.

RC no PP?

Parte desse tectonismo político tem reverberação local, evidentemente. Daí as tratativas para que Roberto Cláudio (PDT) se filie não ao União Brasil, mas ao PP, que tenderia a coesionar com outras forças mediante a federalização, resultando numa composição de maior musculatura.

Noves fora esses ganhos, o desembarque de RC no PP pouparia o ex-prefeito de dissabores que enfrentaria numa legenda hoje dividida entre estar na base de Lula no Planalto ou apoiar uma postulação de Tarcísio, Romeu Zema ou Ronaldo Caiado - ou qualquer outro indicado por Jair Bolsonaro (PL).

Cid e Ciro Ferreira Gomes: irmãos romperam durante crise política de 2022(Foto: Jarbas Oliveira/Agência Estado)
Foto: Jarbas Oliveira/Agência Estado Cid e Ciro Ferreira Gomes: irmãos romperam durante crise política de 2022

Cid e Ciro de conversa

Estão menos acanhadas as tentativas de reaproximação entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, rompidos desde a eleição de 2022, quando os FG se dividiram - uma ala seguiu com Cid para a nau do governismo, enquanto Ciro se manteve do outro lado do balcão.

Interlocutores de ambos vêm se empenhando em convencer o senador e o ex-presidenciável de que já passa da hora de uma reacomodação na família, de maneira que as profundas arestas que restaram do pleito se atenuem e os dois consigam dialogar. Um entendimento entre Ciro e Cid teria implicações eleitorais? Sim e não.

 

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?