Logo O POVO+
Os recados de Cid na convenção do PSB
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Os recados de Cid na convenção do PSB

Matemática de votos e inserção do Interior explicam a estratégia de Cid em insistir no nome de Júnior Mano para o Senado em 2026
Júnior Mano (sentado à esquerda), Cid Gomes, Eudoro Santana no congresso do PSB (Foto: Franzé Abreu/Divulgação )
Foto: Franzé Abreu/Divulgação Júnior Mano (sentado à esquerda), Cid Gomes, Eudoro Santana no congresso do PSB

A quem veja de fora, talvez seja disparatada essa insistência do senador Cid Gomes (PSB) no nome do correligionário Júnior Mano para o Senado em 2026. Afinal, trata-se de deputado federal cujo perfil mais acanhado passa anonimamente na Câmara, quem sabe mesmo na bancada cearense, na qual se incluem dois ou três mais ou menos inexpressivos.

Como agravante, há o fato de que o ex-governador tem se esforçado pouco para justificar a escolha do parlamentar, limitando-se a afirmar que se deve a compromisso firmado anteriormente, quando Mano sequer havia ingressado no PSB - o que torna essa articulação mais nebulosa ainda. Mas como tudo nessa história está numa zona cinzenta - a filiação de Mano se deu via executiva nacional, e não pela estadual -, o que se dá agora ganha ares de lance típico do jogo.

Ocorre que nesse domingo, 27, Cid sinalizou sobre suas estratégias, fazendo questão de deixar claro que procura se posicionar alguns lances adiante. E o que declarou Cid? Que Mano é das poucas lideranças no Interior com apoio de tantos prefeitos hoje (sabe-se lá por quê). Noutra frente, apresentou Acilon Gonçalves como candidato a deputado federal pelo PSB, com votação estimada em 250 mil, patamar aproximado do de Mano. Todo esse capital, projetou Cid, pode se converter em trunfo para o PSB.

Uma nova frente no PSB?

Os movimentos e discursos "cidistas", a exemplo do de ontem, indicam algumas coisas. Uma delas é que existem duas frentes no partido socialista, uma tocada pelo próprio senador e dependente de suas demandas políticas, embora Cid diga o contrário, fazendo lembrar que seus gestos estão em consonância com os da executiva. E uma outra, que se rege pelas decisões da direção do PSB no Ceará, a cargo de Eudoro Santana, pai do ministro Camilo Santana (Educação).

Digo duas frentes separadas porque nem sempre esses caminhos convergem - veja-se o caso da filiação de Mano e sua pré-candidatura, até hoje mal digerida dentro do PSB.

Ex-bolsonarista, hoje socialista

A esse propósito, vale refazer a trajetória partidária tanto de Mano quanto de Acilon, ambos egressos da legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL. Até meses atrás, o deputado federal era um "bolsonarista" que aos poucos se bandeara para o "camilismo", mas até aí, tudo bem. Afinal, o chefe do MEC não chegou a apoiar um candidato simpático ao ex-capitão em disputa contra postulante de sua própria sigla, o PT, com direito a vídeo gravado, o que levou o petismo a produzir nota de repúdio?

Acilon, por sua vez, desembarcou do PL não somente por falta de espaço após a chegada do grupo de André Fernandes. Mas porque, considerando-se as chances de reeleger a esposa como deputada estadual (Marta Gonçalves) e o filho como prefeito de Aquiraz (Bruno Gonçalves), a sombra do governismo pareceu mais generosa. De modo que o ex-gestor do Eusébio, que em 2022 havia indicado o vice de Capitão Wagner na briga pelo Governo, foi da oposição (pouco convicta) a uma adesão entusiasmada.

A matemática política

No frigir dos ovos, pouco interessa esse passivo político para efeito de matemática eleitoral. Na ponta do lápis, como frisou Cid, estão os votos que cada um pode arregimentar em 2026 - Mano uns 300 mil e Acilon, uns 200 mil? Tudo somado, é uma carreta de votos, capaz de conferir musculatura à representação do PSB na Câmara e na Assembleia Legislativa (Alece), mas de assegurar por tabela uma retaguarda estadual para o próprio Cid, a quem esse grupo recém-chegado à agremiação estaria em tese mais ligado - ou acaso essa leva de prefeitos fiéis a Mano se sentiria mais próxima de Eudoro?

 

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?