Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A dinâmica do mega arco de alianças que tem garantido a eleição de governador em quase duas décadas no Ceará pode estar prestes a passar por um abalo
Foto: FERNANDA BARROS
SENADOR Cid Gomes (PSB)
Que o governismo no Ceará se consolidou mediante grandes alianças desde 2006, a partir da eleição de Cid Gomes, disso não há qualquer dúvida. De lá para cá, o método "cidista" foi sendo aperfeiçoado, com a recondução do próprio chefe do Executivo à época (2010), os dois mandatos de Camilo Santana no Abolição (2014/2022) e mais um de Elmano de Freitas.
Comum a todos eles, está o fato de que o arco que lhes deu e dá sustentação foi sempre elástico, abrangendo mais de uma dezena de partidos, alguns dos quais não se fizeram de rogados, deixando para trás o bloco da oposição tão logo as urnas se fecharam. Esse ainda é o cenário para 2026, salvo uma ou outra alteração de rota.
É o que se começa a ver agora, com a federação entre União Brasil e PP, no que se chamou de "União Progressista" - que nem é unida, a se considerar diferenças regionais, tampouco progressista ao pé da letra (ao menos não nesse sentido mais estrito que o "campo progressista" empresta a esse termo). Uma vez federadas, contudo, essas siglas passam a atuar conjuntamente, queiram ou não.
Respeitam-se, claro, visto que há exigências legais a cumprir, mas politicamente se regem por um princípio formal único, o que quer dizer que União e PP estarão no mesmo palanque ano que vem no Ceará.
De olho no jogo
Isso preocupa o governador Elmano? Por ora, conforme aliados, não tanto, em parte porque o petista vem recuperando popularidade, em parte porque há muita água por rolar ainda. Mas o quadro pode se alterar, a depender de alguns elementos. Um deles tem relação com a disputa nacional, isto é, se a oposição ao presidente Lula demandará ou não uma composição estruturada no Estado.
Se sim, e na hipótese de esse candidato ser Tarcísio de Freitas, outros três partidos tendem a firmar alinhamento com os adversários do Abolição localmente: além de Republicanos, sigla do governador de São Paulo, também PSD e eventualmente MDB. Mesmo supondo que seus filiados continuariam fiéis ao gestor petista no Ceará, essas agremiações somariam capital ao lado dos desafiantes (leia-se, tempo de TV e fundos partidário e eleitoral.
Um retrato da corrida
Resumo da ópera: hoje sem perspectiva de competitividade, a oposição chegaria ao pleito do ano que vem mais empoderada do que aquela que postulou o Governo do Estado na eleição passada, com Capitão Wagner e Roberto Cláudio correndo em raias separadas.
A preço de hoje, os ex-oponentes concentrariam energia numa chapa só, possivelmente tendo o União como cabeça e o PL na vice, numa articulação da qual outros atores importantes poderiam fazer parte. Vendo-se os movimentos, trata-se de alternativa plausível - e isso sem sequer aventar a possibilidade de rompimento de Cid com o grupo "camilista", saída custosa para o Ferreira Gomes (mas não de todo descartada).
Por fim, vale lembrar que o bloco anti-PT detém as prefeituras de Juazeiro e Sobral, cidades com peso na geografia do voto - em tese, Maracanaú também, mas Roberto Pessoa mantém bom diálogo com o petismo.
De AJ para RC
À frente do PP no Estado, o deputado federal Antônio José Albuquerque, conhecido como AJ, mandou recado aos (ex) parlamentares mais entusiasmados com a federação entre seu partido e o União. Segundo ele, em conversa com a coluna, no "Progressistas só vai ter filiados que estejam alinhados com o governador Elmano".
Trocando em miúdos: RC pode até assinar a ficha da legenda de Wagner com o propósito de concorrer ao Governo, mas não terá vida fácil nesse trabalho de convencimento dentro do novo bloco. "Temos que lembrar que é uma federação e não fusão", acrescentou o dirigente do PP.
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