Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foto: Tatiana Forte, em 2016
Roberto Cláudio e Capitão Wagner
Embora o arco governista de Elmano de Freitas (PT) possa sofrer defecções importantes ano que vem, como escrevi ontem, o horizonte para a oposição não é exatamente de céu de brigadeiro. Sem candidato natural, o bloco tenta rearticular o campo que foi ao 2º turno em Fortaleza em 2024, mas com algumas dificuldades. Primeiro, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e seu grupo de deputados mais próximos ainda estudam uma legenda que tenha condições não apenas de recebê-los, mas de pavimentar a reeleição dos parlamentares. É o caso de Antônio Henrique, que pode acabar se filiando ao PL, além de Cláudio Pinho e de Queiroz Filho, este mais fiel a RC e certamente inclinado a acompanhá-lo. Ocorre que a potencial sigla de chegada dessa ala pedetista, o União Brasil, mesmo com a força da federação recém-oficializada com o PP, não se notabiliza por uma coesão programática, digamos assim. Há ramos distintos no partido cujas posturas são irreconciliáveis. Um é oposicionista, encabeçado por Capitão Wagner. Outro é adesista, do qual fariam parte a deputada federal Fernanda Pessoa e seu pai, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa - muito aberto a uma interlocução com o Abolição, por exemplo. Outro é pragmático, no qual se inclui Oscar Rodrigues, que está mais preocupado hoje com as questões da Prefeitura de Sobral e em não permitir o retorno dos Ferreira Gomes ao poder do que em demarcar uma posição cerrada anti-PT. Moral da história: se oferece uma estrutura robusta, com tempo de TV e recursos a perder de vista - e nisso a federação será imbatível -, esse conglomerado União/PP apresenta obstáculos de ordem prática a quem quer que pretenda entrar na briga contra a recondução de Elmano, parte em razão de série de divisões internas do União, parte porque o PP é governista no Ceará.
Oposição em desvantagem
Nessa topografia do voto cearense, sobressai outro aspecto digno de consideração a um ano e meio da disputa eleitoral pelo Executivo: em tese, a oposição detém controle de cidades-chave no estado, a exemplo de Sobral, Juazeiro do Norte e Maracanaú, que, convergentes, catapultariam qualquer nome a um 2º turno, pelo menos. Na língua da "realpolitik", todavia, o que se vê é o boleto batendo à porta dos prefeitos, mais interessados nos recursos e em assegurar que as promessas de campanha saiam do papel no curso do seu mandato, já que, do contrário, é seu próprio futuro político que estará em jogo posteriormente. É o que parece se dar neste momento com Glêdson Bezerra (Juazeiro) e os já citados Oscar e Roberto - um trio de oposicionistas que vem modulando discurso quando confrontado com compromissos que deveriam assumir no xadrez das eleições de 2026. O banho de água fria mais recente foi de Glêdson (cotado como vice para RC em 2026), para quem uma candidatura ao Governo está fora dos seus planos - ao menos por ora, conforme contou em entrevista à rádio O POVO CBN Cariri.
A crise entre Lula e Lupi pode chegar ao Ceará
Crédito: Ricardo Stuckert/Divulgação
Crise com Lupi chega ao Ceará?
Mais que se agravar, a crise que se abriu entre o governo Lula e o ainda ministro Carlos Lupi (Previdência) tem octanagem para explodir, reverberando longe de Brasília. Especificamente, no Ceará, onde o PDT, partido do chefe da pasta que está no olho do furacão, vem tentando se reaproximar tanto do prefeito quanto do governador petistas. Dúvida: um eventual rompimento entre o PT e a sigla brizolista em escala nacional se refletiria nas costuras locais, a ponto de repactuar acertos e redefinir alianças, empurrando o pedetismo para o campo da oposição no próximo pleito, com Ciro Gomes novamente sacado como alternativa para concorrer? É cedo para qualquer exercício, do mais remoto ao mais plausível, mas tudo depende da gestão desse "tsunami" político, que se alimentou sob o olhar aparentemente desleixado do ministro. Se Lupi continuar em processo acelerado de fritura, no entanto, não se descarte uma mudança de rota do partido.
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