Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Uma possível candidatura de Ciro Gomes ao governo do Ceará em 2026 projeta cenários não só para a oposição como também para o grupo que está no poder no Estado, inclusive com o nome de Camilo para voltar a disputar o cargo
Foto: Assessoria / Divulgação
Ciro Gomes cumprimenta deputado Alcides Fernandes, do PL, durante encontro com a oposição na Assembleia Legislativa
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A hipótese de que Ciro Gomes (PDT) se candidate ao Governo do Estado em 2026, por distante que seja, tem repercussões imprevistas, uma das quais é a pressão para que o hoje ministro Camilo Santana (Educação) postule um terceiro mandato como chefe do Abolição.
Explica-se: embora tenha colhido derrotas eleitorais recentes e doloridas, uma delas na sua Sobral, o ex-presidenciável representaria um tipo de adversário mais difícil de se enfrentar pelas forças governistas locais, não somente pela dimensão política que ainda tem, mas pelo grau de ascendência sobre o grupo que acabaria se dividindo, com Camilo e Cid Gomes de um lado e Ciro e Roberto Cláudio do outro.
Nesse cenário, o possível embate entre Elmano e o pedetista, a despeito do capital intelectual do gestor petista e de sua experiência administrativa, se deslocaria necessariamente para um terreno mais aberto, no qual o ex-governador e ex-prefeito de Fortaleza talvez encontrasse campo fértil para atuar com a desenvoltura que lhe é própria. É precisamente essa margem de insegurança que as forças governistas desejam eliminar.
Uma nova variável na mesa
A entrada de Ciro no tabuleiro cearense dificulta essa tarefa porque institui uma janela de incertezas - mais que outros, o primogênito dos Ferreira Gomes saberia manejar com mais habilidade ferramentas para explorar as fragilidades do governo, ao menos em tese.
Menos pela densidade de votos que concentraria, hoje consideravelmente menor do que cinco ou seis anos atrás, e mais pela capacidade de mobilizar a oposição, Ciro então vestiria a camisa de concorrente ao Governo num quadro em princípio mais favorável para a ala oposicionista no Ceará, com uma escalada na crise da segurança se agudizando a cada dia e rearranjos partidários que podem enfraquecer a base do governador às vésperas da corrida pelas urnas.
Foto: Samuel Setubal
Ministro da Educação, Camilo Santana (PT)
A solução Camilo
Daí que, a um ano e seis meses das eleições, já seja possível ouvir de governistas (ainda em volume baixo, é verdade) o nome de Camilo sendo soprado como alternativa para garantir de vez que o Governo do Estado continuará nas mãos do condomínio PT/PSB/PSD/MDB - uma questão de resto vital para os planos futuros do titular do MEC.
Trata-se de movimento anterior a essa aparição de Ciro na moldura política e que deve se acentuar a partir de agora, ante a possibilidade não só de que o pedetista concorra ao Abolição no lugar de RC. Mas de que o bloco "antilulista" e "anticamilista" no Estado se unifique na esteira de uma nova realidade regional e nacional, superando o grau de pulverização partidária das eleições de 2022 ou de 2018 e se coesionando em torno de um denominador comum.
Tasso no comando
A preço de hoje, o ex-senador Tasso Jereissati segue à frente da sigla que resultará da fusão entre PSDB e Podemos, o que certamente traz um dissabor para a base do governador Elmano. Primeiro porque essa operação, se de fato se concretizar, assegura mais musculatura para uma legenda adversária; segundo porque subtrai do arco de sustentação petista mais um partido.
E não qualquer um, mas a legenda que hoje se apresenta como o "braço direito" do senador Cid Gomes. Afinal, embora esteja filiado ao PSB, o Podemos foi cotado como endereço para a migração do exército "cidista" no Ceará - além do ex-governador, mais um punhado de prefeitos e vereadores estudava esse caminho.
Atualmente, o Podemos no estado está sob direção da família Bismarck, sempre muito próxima de Cid (Bismarck pai e os irmãos Eduardo, secretário de Elmano que se manteve no PDT, e Guilherme, deputado estadual filiado ao PSB). Logo, a incorporação partidária mataria dois coelhos com uma cajadada só: menos um na base do Abolição, menos um na esfera de mando de Cid.
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