Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Seja fusão, seja federação o resultado da parceria entre PSDB e Podemos tem forte potencial para influir diretamente no jogo eleitoral de 2026
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo
EX-SENADOR Tasso Jereissati (PSDB)
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Embora o ex-senador Tasso Jereissati esteja praticamente definido como dirigente estadual do novo partido que resultará da fusão entre PSDB e Podemos, a base do governador Elmano de Freitas (PT) tem se mobilizado para tentar arrancar a futura legenda do campo da oposição. Nomeadamente, o grupo do deputado federal e secretário do Turismo Eduardo Bismarck, cujo pai, Bismarck Maia, preside o Podemos no âmbito local, fazendo da agremiação uma força de sustentação do Abolição.
Ele mesmo cotado para chefiar a estrutura derivada da combinação entre tucanato e Podemos, Bismarck (o filho) vem tentando articular uma visita ao Ceará da presidente nacional da sigla, Renata Abreu, que chegou a estar prevista para hoje, mas teria sido desmarcada de última hora para evitar ruídos entre lideranças que, se tudo caminhar bem, estarão posteriormente sob o mesmo teto.
Na tarde de ontem, por exemplo, o prefeito de Massapê, Ozires Pontes, que comanda o PSDB cearense, anunciou uma agenda de Abreu com Tasso para a qual não havia confirmação, segundo interlocutores do ex-governador.
Cabo de guerra no ninho tucano
Na mesma mensagem, Ozires celebrava a reaproximação entre Ciro Gomes e TJ, acrescentando que se permitira convidar o ex-presidenciável para se filiar ao partido - coisa que, se cabia a alguém fazer, como de fato já havia sido feito, era a Tasso. Esse vaivém sinaliza para algumas coisas. A principal delas é que se instaurou uma corrida em meio a movimentos tanto de fusão quanto de federação, ambos com potencial para influir diretamente no jogo eleitoral de 2026.
A título de ilustração, veja-se o caso dos quase federados União Brasil (oposição) e PP (governista), que passarão a atuar conjuntamente em todos os níveis por pelo menos quatro anos, a despeito de eventuais divergências regionais.
Oposição tem arestas a superar
Hábil no gogó, Ciro faz parecer mais fácil do que efetivamente será a articulação entre grupos distintos da oposição, a saber, PL, União, PDT, Novo e PSDB. Qual liga une esse bloco? O "anticamilismo", sem dúvida. Fora disso, não há qualquer convergência de pensamento ou de ação entre Capitão Wagner e Ciro. Não digo, porém, que isso seja necessariamente um elemento impeditivo da costura.
Afinal, uns poucos anos atrás, o PSD de Domingos Filho ocupava a vice de Roberto Cláudio contra Elmano na briga pelo Governo, quando PDT e PT já tinham rompido. E onde o partido está hoje? Ocupando posições de destaque na gestão petista tanto no Executivo estadual quanto no municipal.
Tampouco é relevante o fato de que Camilo emprestou apoio a candidato cuja trajetória era de alinhamento com o bolsonarismo, com o agravante de que, do outro lado, estava um concorrente filiado à legenda do ministro. Logo, há mais nuances nesse debate do que sugere a retórica de botequim que costuma campear nos discursos.
O nervo do problema
O busílis, como se dizia antigamente, é que Ciro e RC se constituíram como atores no chamado "campo progressista", ambos capitaneando gestões vertebradas por esse ideário e conectadas com o projeto do qual os governos do PT são continuidade. É desse passivo que eles teriam dificuldade de se distanciar.
Para se tornarem palatáveis a um eleitor de perfil conservador, precisariam não somente modular o discurso, mas fazer um "retrofit" ideológico de difícil execução e com resultados incertos. Claro que há sempre quem argumente que o pragmatismo se impõe.
De maneira que, na cabeça do votante, se há um nome do PT e outro anti-PT, a tendência é de que as forças se organizem em torno desses polos, importando menos o CPF. Essa é a grande aposta do bloco ora em formação no Ceará.
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