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Quem é o cearense que abriu as portas da Inglaterra para os jogadores sul-americanos
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Integrante do Grupo O POVO há 5 anos, com passagem pela redação do Esportes O POVO e atualmente como repórter setorista do Ceará Sporting Club. Nesta coluna se volta à paixão pelo futebol europeu, ampliando o espectro do já estabelecido Clássico-Rei local.

Quem é o cearense que abriu as portas da Inglaterra para os jogadores sul-americanos

Ex-atacante Mirandinha defendeu o Newcastle e foi o primeiro brasileiro a se aventurar na Terra da Rainha. Clube inglês saiu de longa fila de títulos ao conquistar a Copa da Liga
Ex-atacante Mirandinha no evento Confut Nordeste (Foto: Divulgação/Confut Nordeste)
Foto: Divulgação/Confut Nordeste Ex-atacante Mirandinha no evento Confut Nordeste

O Newcastle encerrou um jejum de 70 anos sem conquistas ao bater o Liverpool por 2 a 1, na final da Copa da Liga. Nesse título que marca um novo momento dos Magpies — com investimento saudita e contratações milionárias —, dois brasileiros foram protagonistas e são ídolos do clube: Bruno Guimarães e Joelinton. A dupla não só foi titular na final como é peça inquestionável do time há algumas temporadas e conta com o carinho do torcedor.

Mas se a torcida do Newcastle comemorou o título e tem os dois brasileiros como uns dos responsáveis deve agradecer a um ícone que pavimentou esse caminho: Mirandinha. O cearense não foi apenas o primeiro brasileiro a conquistar a idolatria no clube do condado de Tyne and Wear, como também abriu as portas do futebol inglês para os sul-americanos.

Mirandinha era um dos principais nomes do Palmeiras em 1986 e 1987, vivia um bom momento e era convocado corriqueiramente para a seleção brasileira. Foi durante uma destas convocações, intermediado por um jovem de 22 anos, que o Newcastle descobriu o atacante.

“Foi muita surpresa. Quem fez toda essa negociação foi um garoto de 22 anos, que estava estudando na Inglaterra, e eu era muito próximo do pai dele, que era conselheiro do Palmeiras. O pai dele começou a mandar material meu para eles lá (Newcastle), vídeos, fitas cassete, e aí o Newcastle passou a me conhecer, saber que eu existia e a ficar me monitorando", relatou Mirandinha à coluna.

"O professor Carlos Alberto (técnico da seleção) me convocou, eu tive a felicidade de fazer o gol de empate (contra a Inglaterra) e de ser escolhido como melhor em campo. Depois, no jogo contra a Escócia, fui novamente escolhido melhor em campo e isso carimbou a minha ida pro Newcastle”, recordou.

Enquanto Mirandinha estava em alta, o Newcastle não seguia a mesma toada. Os Magpies tinham dificuldades de permanecer na First Division e, buscando alternativas, apostaram na dupla de ataque com o brasileiro ao lado de Paul Goddard, municiados pelo meia Paul Gascoigne, conseguindo impacto imediato.

“Jogava eu e o Paul Goddard, eu mais por dentro. A gente formou uma bela dupla, e com a assistência do Paul Gascoigne, que achava a gente sempre bem posicionado para fazer o gol. Eu disputei a artilharia nos primeiros meses, ‘pau a pau’ com John Aldridge (Liverpool), com Brian McClair (Manchester United), com os monstros sagrados do futebol britânico”, relembrou o ex-atleta.

As boas atuações atestadas pela imprensa, torcida e até outros jogadores fizeram Mirandinha ter certeza de que sua passagem foi um sucesso, abrindo portas para outros sul-americanos no futebol inglês. Mirandinha cita até um elogio de George Best, icônico jogador britânico que enalteceu as atuações do cearense.

“Eu tenho certeza de que consegui romper o cadeado dessa porta que não entrava ninguém (risos). E não era só brasileiro, não, era sul-americano. Era muito pouco (atletas sul-americanos). Quando eu cheguei lá (na Liga Inglesa), tinha um argentino, o (Osvaldo) Ardiles, do Tottenham, em toda a liga, e eu”.

“Eu tenho a convicção de que fui lá e abri as portas. Mas tenho essa convicção porque fui lá e fiz sucesso. Fiz gol contra Manchester United, Liverpool, Chelsea, Everton, contra os bichos papões da época. Lembro de uma frase do George Best que marcou minha passagem pelo Newcastle: ‘Há três jogadores que eu atravesso a rua para ver’, mencionando a mim. Isso tudo me fortaleceu para ter a certeza de que não só abri as portas, como fiz sucesso e isso acabou levando Juninho (Paulista), Gilberto Silva e tanta gente boa”, completou Mirandinha.

Apesar do impacto que teve na Inglaterra, Mirandinha ficou apenas uma temporada e meia (1987/88 e início de 1989). Na época, o ex-atacante havia machucado o tendão de Aquiles e estava tratando a lesão no Palmeiras. A diretoria alviverde o convenceu a retornar e recomprou o passe do atleta, o que é motivo de arrependimento confessado pelo próprio.

“Essa foi a grande mancada da minha carreira. Não que o Palmeiras não fosse merecedor do meu retorno. Eu tinha machucado o tendão de Aquiles no final da segunda temporada e vim me recuperar no Brasil, no Palmeiras. Quando estava me recuperando, houve o convite para eu ficar os seis meses emprestado, e eu tinha um ano e meio ainda de contrato pelo Newcastle. Como eu estava me recuperando e o Newcastle ia disputar a segunda divisão, eles me emprestaram por seis meses, mas com a certeza do meu retorno”, explicou.

“Naquele período (que estive na Inglaterra), eu tinha ficado muito próximo do dono do Newcastle, Sir John Hall. O empréstimo estava acabando, ele tinha comunicado que eu iria voltar, que iria formar um grande time e que me daria um novo contrato. Quando eu ia jogar meu jogo de despedida para ir embora do Palmeiras, eles (Newcastle) já tinham mandado passagem, tinham casa alugada para mim, estava tudo pronto. Aí, eu caí na besteira de dizer 'não' ao Newcastle, e o Palmeiras me comprou em definitivo de volta”, revelou Mirandinha.

Atualmente, Mirandinha trabalha como treinador dos juniores do Atlético Guaçuano, no interior paulista. Quando há tempo ou uma folga, vai ao Newcastle para rever os amigos e matar a saudade do clube. Agora, com o fim da fila, os brasileiros fizeram novamente o torcedor do Magpie sorrir.

Foto do Horácio Neto

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