Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
Não existe no meio do futebol uma só mulher que nunca tenha escutado que "deveria estar atrás do fogão" ou na beira de um pia de louças. A afirmativa é um clichê na vida dos misóginos e foi com ela que a árbitra Ingrede Santos foi atacada pelo presidente do Pacajus, Cristiano Cortez, de acordo com a súmula do jogo disputado no dia 31 de março. Ao justificar o ataque, o mandatário ainda rotulou a profissional como "muito complicada e muito feminista" .
Ser feminista é, de fato, um problema no meio do futebol. Se só por ser mulher somos atacadas, quando reafirmamos isso ou não baixamos a cabeça para qualquer um isso se torna ainda mais notório. O "complicado" passa a ser nosso sobrenome, mesmo que essa complicação, à vista de muitos homens, seja apenas nós, mulheres, lutando, muitas vezes, pelo básico: respeito e espaço para fazermos o que somos pagas para fazer.
Recentemente, durante uma conversa de sala de espera, refletia sobre minha própria "complicação" e meu "feminismo" — ou minha liberdade de lutar por um espaço em um meio majoritariamente masculino. A reflexão ocorreu após um leitor apontar que por eu passar duas semanas falando sobre ex-jogadores condenados por estupro, eu poderia estar "perdendo futuras fontes nos clubes por lacrar demais". Eu sempre reflito sobre tudo que recebo de feedback, afinal, todo apontamento é válido.
Só que falar sobre assuntos sociais, como violência contra a mulher, misoginia, racismo e LGBTfobia, não deveria ser encarado como um demérito meu ou de qualquer outro colunista e formador de opinião. Se para alguns homens pode ser desconfortável ver mulher se posicionando, tomando o espaço de uma página de jornal que poderia ser ocupada por mais uma notícia sobre esporte, para o colunista ou formador de opinião é maçante — mas extremamente necessário — falar sobre problemas sociais. O futebol, como um meio social, deve, sim, ser usado como impulsionador de lutas, e não como mais um meio para dar ouvidos àqueles que acham que somos "complicadas e feministas".
Em relação às minhas próprias experiências, sobrevivendo por quase metade da minha vida nesse meio esportivo, não vou dizer que não lamento por saber que pessoas podem hipoteticamente se fechar para mim ou para outras excelentes profissionais por defendermos nosso ideais, mas em honra a tudo que aprendi nas aulas de Legislação e Ética do Jornalismo não farei minha carreira em função do que os homens querem, ainda que trabalhe em um meio tão pouco plural.
Sendo realista, nunca foi do meio feitio. Se fosse, eu provavelmente teria inicialmente seguido meus três irmãos homens e meu pai e torcido por Flamengo ou Palmeiras. E embora eu os ame e os respeite, sempre preferi ser mais "complicada" do que isso. Se não fosse, provavelmente nunca teria chegado até as páginas deste jornal.
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