Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
Gritos ensurdecedores de "Jesus vai te abençoar! Tô torcendo por você! Vai com Deus!" e uma faixa de "Nosso eterno ídolo, estamos com você nessa luta e vamos vencer!".
O cenário descrito poderia facilmente caber num contexto de torcida incentivando um time e seus jogadores e ídolos antes de um jogo decisivo, mas foi a maneira com a qual flamenguistas e fãs do goleiro Bruno o receberam em Minas Gerais, em 2010, na chegada do réu para os primeiros julgamentos da morte da ex-modelo Eliza Samúdio.
Relembrado nesta semana por meio de um documentário lançado pela Netflix, chamado "A vítima Invisível", que está no topo da lista de mais assistidos da plataforma desde então, o caso Eliza Samúdio retrata bem como é baixo o valor de uma mulher frente à doentia idolatria futebolística a um ídolo.
Enquanto a vítima era cada vez mais descredibilizada — e isso ocorre até hoje — no momento em que pedia socorro pela imprensa e para as autoridades, ao maior beneficiado em um dos maiores casos de feminicídio do País sobrava esse tipo apoio e, até mesmo 14 anos após o crime, resta não só quem o idolatre, mas até banque a contratação e tenha orgulho de pedir uma selfie ao "ídolo". Tudo isso pelas coisas que um dia ele fez com a camisa de um dos clubes mais populares do País — mas também por um puro machismo.
Será que não falhamos enquanto sociedades e indivíduos dentro do futebol, nessa dinâmica de idolatria doentia a atletas pelo que eles fazem em campo quando esse sentimento parece valer mais que uma vida, especialmente se essa vida for a de uma mulher?
É simbólico que a mesma voz que aparece no documentário dando bênção ao Bruno, antes do início do julgamento, curiosamente também xinga Fernanda, ex-namorada do atleta, também envolvida no caso, ao invés de apoiá-la, como ocorreu com o outro réu, este homem.
É preciso se questionar sobre o pedestal no qual jogadores de futebol são colocados. Mesmo o futebol podendo ser a maior alegria das nossas vidas, e muitas vezes foi da minha própria vida. Ele supera a nossa humanidade e empatia?
Devemos questionar isso, caso contrário, mesmo anos depois, será possível ver esse tipo de apoio absurdo ocorrer, ainda que pareça — mas só pareça e quem é mulher no meio do futebol sabe disso — não ter mais espaço para isso no esporte hoje.
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