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Estou cansada de falar sobre o Cuca
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

Estou cansada de falar sobre o Cuca

Técnico do Atlético-MG voltou a falar sobre caso de estupro em que esteve envolvido na Suíça, quando disse que demorou para ver os próprios defeitos
Cuca foi apresentado no Atlético-MG nesta segunda-feira, 13, quando falou sobre o caso de estupro envolvendo-o.  (Foto: Pedro Souza / Atletico)
Foto: Pedro Souza / Atletico Cuca foi apresentado no Atlético-MG nesta segunda-feira, 13, quando falou sobre o caso de estupro envolvendo-o.

Eu adquiri na última segunda-feira, 13, uma nova meta para 2025. Esse objetivo afeta este espaço já que se define em parar de falar, escutar ou conversar sobre o atual técnico do Atlético-MG, Cuca. Infelizmente, ainda na segunda semana do ano, mas talvez já como despedida, eu me vejo na necessidade de me contradizer e falar só sobre ele.

Apresentado no Galo, o profissional voltou a falar do caso de estupro em que ele esteve envolvido na Suíça. Cuca falou sobre demorar a ver os próprios “defeitos”, se colocando como o baluarte dos homens feministas do futebol, numa vã tentativa de que não o reduzam a isso para que ele possa trabalhar em paz.

Comigo, suas palavras e ações nunca funcionam. Eu gostaria de ver verdade em suas frases quando ele fala que o futebol é machista, porque de fato é, mas tudo que eu enxergo é uma frase aprendida em uma palestra ou até talvez com um profissional de mediação de crise sendo repetida a esmo. Não sou a régua do mundo, nem tenho polígrafo, mas é que sempre soa como se nunca houvesse nada além de uma tentativa de mudança de imagem por trás das palavras dele.

Não há uma tentativa de reflexão aos colegas, não há e nunca houve — por indicação jurídica? — nada que chegasse perto de uma confissão seguida de um pedido de desculpas, o que talvez (um grande talvez) fosse visto como o começo genuíno de uma redenção do crime cometido. Na maioria das vezes, parece que um crime nem foi cometido, como foi o caso da mais recente coletiva ao qual ele reduziu tudo aos próprios defeitos e a como ele é o um novo homem aos olhos dele mesmo.

Suas ações aparecendo em palestras e eventos sobre abuso sexual também não trazem nada a mim além de repulsa. Como eu queria ver algum mínimo de redenção só pra tirar de mim todo o sentimento negativo que eu — sendo uma mulher que já foi abusada e trabalha há anos com futebol — tenho de ver um homem como ele em uma alta posição no esporte, porque são sentimentos que não me fazem bem e eu não gosto de ser envenenada assim. Mas eu não consigo abandoná-los por não ver verdade em suas atitudes, apenas o uso de uma pauta sensível para um possível benefício próprio.

Além de ser cansativo sentir e ter de lidar com tudo isso — as conversas, falar e escutar sobre esse assunto (e isso é meio que meu trabalho) —, é ainda mais exaustivo ver que ele não entendeu nada do que é pedido a ele, porque o que é pedido não é que ele ajude ninguém — porque não há ninguém esperando para ser salva pelas palavras dele —, mas que ele tome consciência.

Até agora, todas as palavras que ele diz parecem ter sido ditas por um mediador de grandes crises, assim como todas as suas atitudes. Não o conheço, mas não parece que há nada de genuíno no que ele faz. E enquanto esse tipo de atitude ensaiada persistir, as suas palavras só vão servir para atormentar as mulheres por quem ele diz ter tanto apreço agora e trazer à tona tudo que ele quer colocar pra debaixo do tapete.

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