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Estádio, a morada da impunidade, mas até quando?
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Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil

Iara Costa esportes

Estádio, a morada da impunidade, mas até quando?

Acontecimentos do final de semana corroboram o entendimento de que o estádio é onde os homens se sentem livres para exibir selvageria, racismo e misoginia
Inúmeros crimes ocorrem em estádios brasileiros pela certeza da impunidade dos infratores.  (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais Inúmeros crimes ocorrem em estádios brasileiros pela certeza da impunidade dos infratores.

Por definição gramatical, o estádio é um local destinado a competições esportivas onde há bancadas para o recebimento de profissionais esportivos e público. Em nossas vivências, uma arena futebolística pode ser bem mais que isso, para o bem e para o mal. Pelo lado positivo, é em arquibancadas, tribunas e campos em que sonhos se realizam, sejam eles de exercer uma profissão (jornalista, técnico, jogador) ou de conquistar um título. É lá que também podemos alcançar um êxtase que só quem acompanha futebol sabe que é capaz de sentir. 

Pelo lado negativo, também é nos estádios onde o pior dos homens pode se revelar — e em inúmeras vezes sem punição. Nos últimos meses, tenho gravado na memória pelo menos um crime que ocorreu em um estádio com quase nenhum envolvido saindo algemado do local. Em agosto de 2024, um torcedor do Palmeiras atentou ao pudor ao mostrar as partes íntimas enquanto insultava uma torcedora do Botafogo no Allianz Parque. Nesse caso, além do crime, houve a clara misoginia.

O que ocorreu com ele, afinal? As últimas notícias sobre o caso dão nota de que ele foi banido do programa de sócio-torcedor do Palestra Itália e impedido de comprar ingressos em jogos em que o Palmeiras for mandante — mas quem garante que ele não comprará ingresso de terceiros? Ou que ele não poderá usar um acessório para burlar o sistema de reconhecimento facial do estádio do Palmeiras?

Voltando aos casos de crimes, nesse final de semana tivemos dois shows de horrores vindo das torcidas organizadas de Ceará e Fortaleza. Uma eterna briga de egos entre homens que supostamente torcem para o mesmo time e brigam, na maioria das vezes, por serem aliados com torcidas de outros clubes. Reler as duas frases anteriores em voz alta soa idiota até porque é idiotice, mas é no estádio onde eles se sentem mais a vontade para fazer isso e até se vangloriam quando passam na televisão sendo estúpidos, já que poucos são os detidos por isso.

Há ainda os que vão mais e mais longe, como o torcedor que postou um vídeo nas redes sociais sendo abertamente racista com Léo Pelé em uma partida no Couto Pereira, em Curitiba (PR). O atleta teve dificuldade, inclusive, em fazer a denúncia porque a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe) do local fechou logo após o jogo. Por qual motivo será que os homens se sentem tão livres para cometer tais atrocidades dentro de uma arena esportiva? 

Será que o poder público — e eu expando o questionamento a todo o Brasil — não deve questionar o motivo disso? Por que nossas casas de futebol, onde supostamente deveríamos ir para ser feliz e vibrar, é lugar onde os homens se sentem livres para demonstrar selvageria, racismo e misoginia com atentado ao pudor? Será que é pela sensação de impunidade? A resposta é, claramente, sim, mas fica mais um questionamento: será que o poder público e os agentes de segurança não devem ter planos mais efetivos para conter tal impunidade? Afinal, o futebol, com suas dores de derrota e delícias de vitória não merece pagar por isso. E nem muito menos quem só quer ir ao estádio ver um jogo de futebol.

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