
Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
Jornalista e colunista de futebol feminino do Esportes do O POVO. Graduada em Jornalismo no Centro Universitário Sete de Setembro (Uni7). Já passou por assessorias de imprensa e foi repórter colaborativa da plataforma de notícias VAVEL Brasil
O Ibope Repucom publicou no início deste mês da mulher um amplo resultado de estudo chamado "Women and Sports 2025", que avaliou os hábitos e a relação das mulheres com o mundo esportivo. Entre os dados avaliados entre 2020 e 2024, vários se destacam como o crescimento do interesse feminino por esportes em 20%. O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi a relação com o consumo.
Futebol é dinheiro e, neste quesito, as mulheres não têm deixado a desejar, ainda que um estádio de futebol ainda não tenha se mostrado tão acolhedor quanto deveria com esse público. Entre os brasileiros que compraram materiais esportivos nos últimos seis meses, 47% deles são mulheres, que possuem ainda uma média de valor de gasto semelhante ao dos homens. Enquanto eles gastam, em média, R$ 165, a mulherada desembolsa R$ 162. Isso mesmo, apenas R$ 3 a menos.
Por qual motivo então a oferta de produtos é bem menor para mulheres? Dando exemplos práticos, ao entrar nos sites oficiais de Ceará e Fortaleza, você vê um amplo leque de produtos masculinos que vão desde os uniformes oficiais, passando por linhas de viagens e treinos, até as camisas casuais. Na aba de produtos femininos, a demanda se reserva aos uniformes oficiais e às camisas casuais. E se uma torcedora quer adquirir um casaco de viagem? Bem, precisa comprar o classificado como masculino, cujos modelos têm uma anatomia muito diferente de um corpo feminino.
As desculpas quanto a essa ausência de produtos é sempre alguma falácia ou transferência de responsabilidade. Quando falam, por exemplo, que é porque não vende, vemos por outro lado produtos oficiais femininos esgotando mais rápido que os masculinos em algumas ocasiões pela distribuição menor do número dos produtos. Por qual motivo não fabricar mais?
Quanto à transferência de responsabilidade, uma amiga botafoguense já me relatou que sempre recebe respostas protocolares do Botafogo e da atual fornecedora do clube quanto à ausência de camisas femininas de alguns modelos — alguns de cores que, pasmem, são mais consumidas por mulheres, como a cor lilás. Em resumo, nada nunca é resolvido.
E quando não é resolvido, a mulherada acaba tendo que consumir — e vestir — camisas masculinas, que não seria qualquer problema já que nós, mulheres, não sofremos de masculinidade (neste caso, seria feminilidade) frágil. O problema é ter de vestir algo que não foi feito para o nosso corpo, que causa desconforto por apertar nos seios e nos quadris, por exemplo.
De certo modo, até parece uma metáfora para o que o universo do futebol nos faz dia após dia, nos colocando em posições desconfortáveis para ver se desistimos de vestir essa camisa. Por sorte, somos persistentes, mas que vestir algo desconfortável que queremos consumir incomoda, ah, como incomoda...
Futebol e as ressonâncias do ser mulher no mundo esportivo. Sem estereótipo. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.