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As sementes da pitaya
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É jornalista, professora da rede pública, escritora de cartas e de livros não publicados.

As sementes da pitaya

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Exótica por fora, adocicada por dentro. Pitaya é uma das frutas mais caras do mercado e deixa minhas papilas gustativas exultantes. Divide opiniões. Para alguns é um alimento superestimado - sendo facilmente substituído por maçã ou banana. Para outros é uma dose de energia - capaz de fortalecer o corpo e prevenir anemia.

Não lembro o momento no qual comecei a sonhar com uma obra chamada Pitaya. Livro é isso: desejo, criação, fantasia, objetivo - mas, sobretudo, é sonho. E, mesmo agora, com os exemplares impressos e o lançamento marcado, sigo achando surreal. Vou deixar de ser a "escritora de cartas e de livros não publicados" e passar a ser uma escritora da Editora Substânsia - casa que contabiliza mais de dez anos de atuação.

Até 2015, desconsiderava a existência das pitayas. No Mercado Municipal de São Paulo, o Mercadão, enquanto caminhava procurando pastel, um vendedor ofereceu pedaços. "O que é? Sorvete de flocos?", pensei. Aceitei por pura curiosidade. Já sei, já sei... A curiosidade ainda vai me matar, mas não resisto nem me arrependo.

Não era sorvete de flocos, apesar do branco sapecado por pontos pretos. Era um pedaço da América Central e do México. Tão doce, mas tão doce, que comecei a lacrimejar. Quando mastigo uma pitaya, consigo ver as cores de Frida Kahlo, escutar a voz da Thalía e da Belinda Peregrín, rir das histórias de Roberto Bolaños.

Pitaya - o livro do dragão - deixou de ser meu faz tempo. Ele é um nosso, um coletivo, um plural. A obra tem edição do poeta Talles Azigon; coordenação editorial do designer Daniel Firmino; revisão do escritor Madjer de Souza Pontes; capa e projeto gráfico de Jansen Lucas - também responsável pela ilustração dessa coluna.

Lá, estão reunidos textos publicados no Vida&Arte ao longo dos últimos dezoito meses - meu tempo como cronista dessa casa que tanto me abriga. Quando o Renato Abê - editor-chefe de Cultura e Entretenimento do O POVO - ligou convidando para escrever quinzenalmente, eu titubeei. "Cronista, eu? Ah, na página dois? E com ilustração?", dividida entre a incredulidade e a alegria. Como o pedaço de pitaya mordido em 2015, aceitei a oferta por curiosidade. Guardo as palavras escritas pelo Abê no primeiro email: "Seja muito bem-vinda ao seu bom Vida&Arte".

A caixa de saída foi ganhando mais e mais crônicas. Poucos meses depois do convite, eu não sabia mais existir sem o compromisso da escrita quinzenal. No momento, acumulo textos em pastas no computador - aguardando na fila para serem publicados. Até chegar ao momento atual: lançamento do Pitaya marcado para quinta-feira, 11 de julho, às 19 horas, selando a inauguração da nova loja da Editora Substânsia - localizada no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (rua Dragão do Mar, número 81 - Praia de Iracema).

Pitaya escutou "não" seguido de "não" ao longo do caminho. Mas bastou um "sim" para que deixasse de ser sonho e começasse a ser realidade de tantas mãos. E, com esse livro, aprendi que ainda vou escutar muito "não" na vida, que as coisas nem sempre vão ser fáceis, que o mundo não vai obedecer ao tempo e ao modo dos meus desejos. Contudo, preciso seguir. Criando, escrevendo, construindo. Vou encerrar essa crônica com uma frase que não é minha, mas está presente no Pitaya: "fazer um livro é sempre emocionante e revolucionário".

Foto do Isabel Costa

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