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O dilema de Lula
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É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.

O dilema de Lula

"Falar ou não falar", eis a questão posta no momento para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após a série de frases polêmicas que impactaram diretamente o mercado e, como consequência, a nossa economia. Disparada do dólar, alvoroço na Bolsa, instabilidade no governo. Dias turbulentos que fizeram até o sempre calmo ministro da Fazenda Fernando Haddad perder a paciência e cobrar uma postura mais comedida por parte do Palácio do Planalto que, segundo ele, precisa melhorar sua comunicação. "Atribuo a muitos ruídos. Eu já falei isso no Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável), precisa comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo", destacou o petista ao comentar a desvalorização do Real e comemorar o aumento acima do previsto na arrecadação para o mês de junho.

O puxão de orelha se converteu em resultados: a moeda norte-americana registrou forte queda depois de Lula afirmar que a responsabilidade fiscal é um "compromisso" de sua gestão. Quadro que melhorou ainda mais diante do anúncio de corte na ordem de R$ 29,5 bilhões no orçamento e promessa de cumprimento do arcabouço fiscal. Se isso vai virar realidade ou não são outros quinhentos, mas ao menos o Executivo alinhou o discurso e tornou pública a postura que precisa ser adotada para evitar uma crise ainda maior.

Fazendo uma analogia com o futebol, Lula é um craque na política, isso ninguém pode negar, mas às vezes comete deslizes injustificáveis, à la Vini Júnior, que na última partida contra a Colômbia, válida pela Copa América, cometeu falta desnecessária que lhe rendeu um segundo cartão amarelo na competição e
uma suspensão.

Às vezes nem parece que o presidente é um veterano no cargo. Do alto de seu terceiro mandato, Lula age em alguns momentos como principiante, sem a noção necessária de que qualquer colocação dita pela principal autoridade do País tem efeitos imediatos. Nesse caso específico, muito negativos. Claro que os juros precisam baixar, mas isso não vai acontecer se o governo não fizer o dever de casa e controlar os gastos públicos. Não é criando um clima belicoso com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nem colocando só nas costas dele decisões que são tomadas por todo um comitê formado por pessoas, até onde se sabe, sérias e técnicas, que as coisas vão melhorar. A sensação que passa é o que o presidente busca um "bode expiatório" para justificar falhas ou demora no surgimento de frutos mais concretos em termos de desenvolvimento econômico e social.

Mas voltando a falar sobre a comunicação capenga do atual governo, de fato há muito o que se avançar. A atual estratégia adotada é colocar o presidente em entrevistas Brasil afora, aproveitando a audiência de alguns veículos. Entretanto, sem alguém que consiga "domar" a ânsia presidencial, estabelecendo filtros que, claro, não tolham a espontaneidade própria de Lula, o tiro sairá muitas outras vezes pela culatra. Neste caso, é melhor, sim, um Lula um pouco mais calado. n

 

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