Pablo Marçal e os riscos de um Bolsonaro versão 2.0
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É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
Pablo Marçal e os riscos de um Bolsonaro versão 2.0
Com apenas duas semanas do início da campanha eleitoral para prefeituras de todo o País, já está claro quem é o fenômeno nacional da atual disputa: o ex-coach e empresário Pablo Marçal (PRTB). Com uma estratégia agressiva, questionada na Justiça por adversários e até pelo Ministério Público em razão de posturas apontadas como ilegais, o candidato à Prefeitura de São Paulo atraiu os holofotes e vem crescendo de forma acelerada nas pesquisas de intenção de voto, chegando a empatar no primeiro lugar com o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) e com o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca reeleição.
Impossível não traçar um paralelo com a candidatura do hoje ex-presidente Jair Bolsonaro (então no extinto PSL) em 2018. Mas Pablo Marçal tem um diferencial: é bem mais inteligente. Domina de forma orgânica o ambiente digital, enquanto Bolsonaro contava apenas com a atuação por vezes atrapalhada, mas eficaz, do filho e vereador, Carlos. Saem os disparos segmentados via WhatsApp - inclusive com uso de fake news -, entram os cortes em massa e remunerados publicados em plataformas como Instagram, Youtube e TikTok. Espécie de campeonato cuja inspiração está do influenciador britânico-americano Andrew Tate, ícone do movimento "red pill" em prisão domiciliar na Romênia acusado, entre outros crimes, de ter criado organização para exploração sexual de mulheres.
O método é simples: pagar pessoas para cortar seus vídeos e impulsioná-los. Marçal então resolveu aplicá-lo na política, obtendo resultados imediatos. Mas não poderia ser qualquer conteúdo. São ataques de todo o tipo, a ponto até de acusar sem provas o candidato Guilherme Boulos de ser usuário de cocaína. Segundo o pessolista, Pablo pegou uma denúncia contra um homônimo para elaborar a ofensiva.
É nesse vale-tudo por visibilidade e, consequentemente, pelo poder, que o candidato do PRTB vai surfando, sem que a Justiça Eleitoral consiga evitar e punir atitudes que já causaram danos irreparáveis. Assim como em 2018, as autoridades se veem diante de novos desafios e não possuem ferramentas eficazes para combater eventuais abusos. Marçal reconhece, por exemplo, que fez os pedidos de cortes e ensinou como fazê-los, mas alega que os pagamentos não são realizados por ele, mas sim pelas próprias plataformas.
Se isso for verdade, como apontar abuso de poder econômico, ponto-chave para o pedido de cassação da candidatura? Mesmo burlando as regras, não há como puni-lo? Principalmente quando se leva em conta o nível de desinformação que Pablo Marçal e seu exército estão espalhando de forma desenfreada na Internet? Derrubar as redes do candidato se tornou algo totalmente ineficaz, tendo resultado oposto ao previsto: Marçal acabou ganhando ainda mais destaque e reforçando o discurso de vítima.
São muitas camadas estruturadas nesses espaços virtuais para as quais nossa legislação não estava preparada. O cenário é complexo e até assustador, mas não dá apenas para ficar assistindo a tudo isso com medidas paliativas. O processo democrático não pode ser distorcido dessa maneira, com a política sendo desqualificada e sequestrada por métodos da chamada economia digital, com viés totalmente manipulador, vendendo uma série de ilusões. O risco de entrarmos num abismo sem fim é iminente. n
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