É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
O perigo é latente, ainda está aqui. Que não precisemos colecionar novas dores estampadas em jornais e livros. Ou recontadas pela arte cinematográfica. Por Eunice Paiva e seus filhos, pela memória de outras tantas vítimas que se foram de forma tão cruel
Foto: Alile Dara Onawale/Divulgação
"Ainda Estou Aqui" é indicado a "Melhor Filme de Língua Estrangeira" no Globo de Ouro
13 de novembro, noite de quarta-feira: assistia em um dos cinemas de Fortaleza ao aclamado "Ainda Estou Aqui" (Walter Salles). No mesmo dia e horário, um homem se explodia na Praça dos Três Poderes em nome de um patriotismo ensandecido e vulgar. O filme, que tem chances de representar o Brasil no Oscar, retrata como a família do ex-deputado federal e engenheiro civil Rubens Paiva foi dilacerada após ele ter sido levado - sem nunca retornar - por forças da ditadura militar que comandava com mãos de ferro - e muito sangue - o País no início dos anos 70.
Já Francisco Wanderley era um chaveiro inconformado, assim como milhões de outros brasileiros, com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2022. Bombardeado com fake news e discursos asquerosos que tentam macular o nosso processo democrático, enlouqueceu, sendo protagonista de um dos mais chocantes episódios desde os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Seis dias após o novo ato extremista, a Polícia Federal prendia militares acusados de orquestrar, em 2022, um plano golpista e homicida: matar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, na época também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como resultado esperado, a permanência de Jair Bolsonaro no poder.
Morte é a palavra e a estratégia que atravessa momentos de um passado histórico e também bem recente quando o assunto é essa mistura inadmissível entre política e Forças Armadas. É nesse caldo venenoso que o hoje e o ontem se entrelaçam. E anistia é o instrumento em parte responsável por muitas dessas sequentes desgraças vistas atualmente e que ainda pode tornar outras possíveis, caso um projeto patrocinado pela extrema-direita seja aprovado no Congresso Nacional.
O fato de nunca termos punido à altura os responsáveis pelos repressivos anos de chumbo no Brasil é o que explica toda essa sanha assassina que ameaça até hoje nossas instituições. A ausência de uma Justiça plena se transformou em força motriz de uma violência verde oliva que ecoa anos a fio, impossibilitando uma real pacificação do País.
É preciso aprender com os sequentes erros e punir sem melindres quem só se ocupa em desmoralizar a nação, vendo nas diferenças ideológicas motivo para uma guerra sem limites. Uma oportunidade foi perdida, mas há outra que jamais poderia ser desperdiçada. E aqui não falo só dos "peões" dessa engrenagem criminosa, mas também de todos os "barões" por trás dela. Integrantes de um sistema especialista em corromper corações e mentes.
Foi assim em 1964, é agora em 2024. Vai continuar sendo caso o remédio não seja aplicado da maneira correta. O perigo é latente, ainda está aqui. Que não precisemos colecionar novas dores estampadas em jornais e livros. Ou recontadas pela arte cinematográfica. Por Eunice Paiva e seus filhos, pela memória de outras tantas vítimas que se foram de forma tão cruel. Por um futuro sem as amarras do medo.
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