É editor digital de Política do O POVO e apresentador do programa Jogo Político, interessado no mundo do poder, seus bastidores e reflexos sobre a sociedade. Entende a política como algo que precisa ser incorporado e discutido por todos. Já foi repórter de Política e também editor da rádio O POVO CBN.
Pode até parecer inusitado, mas não deveria. Afinal, qual o problema de um fã da "mother monster" ser também torcedor de um time de futebol? Sou um exemplo disso. Adoro as chamadas "divas pop" e nutro paixão pelo Ceará Sporting Clube. Claro que reconheço que são universos bem diferentes, mas a complexidade humana está aí para provar que gostos diversos podem coexistir em uma mesma pessoa.
Infelizmente, não é bem assim que uma parte da sociedade enxerga situações como essa. O título desse artigo resume o assunto que aprofundo agora. No último dia 29 de abril, o perfil "Torcida Alvinegra", no Instagram, publicou uma entrevista do gestor comercial cearense Pedro Ian Freire, concedida à CNN, vestido com a camisa do Fortaleza e falando de toda sua expectativa para o show de Lady Gaga em Copacabana, que aconteceria quatro dias depois. O vídeo é seguido da seguinte legenda: "Desistiram do Laion pra ver a Lady Gaga KKKKKKKKKKK".
Quem acompanha futebol sabe como é de praxe o uso de termos ou elementos do mundo LGBTQIA para xingar, fazer chacota, menosprezar, atacar adversários. Está presente tanto nessa postagem como em cânticos, coros, faixas, enfim, quase todas as formas de expressão desses grupos que estão mergulhados em uma cultura preconceituosa e homofóbica. E que, obviamente, levam esse comportamento também para fora dos estádios. Chamar o outro de "gay" ou "baitola" vira rotina quando se tenta inferiorizar o outro.
Já ciente das reações que viriam - sim, eu estava com tempo -, fui lá na publicação criticar a forma desrespeitosa como esse perfil estava tratando o fã tricolor da cantora norte-americana, argumentando que existem torcedores homossexuais em todos os times, e que é possível tirar sarro da torcida adversária sem apelar para a sexualidade das pessoas.
O "Torcida Alvinegra" tratou logo de se explicar, alegando que eu teria "entendido mal a ideia do post": "Podia ser show do Aviões do Forró. O meme tá no contexto. Caba 'largar o time' pra ir ver um show lá na baixa da égua. É só piada! Vá descansar que é melhor".
Como eu não estava com sono e nem com vontade de ser feito de besta, respondi que se fosse um torcedor dentro dos padrões heterossexuais, com toda certeza eles não teriam se dado ao trabalho de fazer essa postagem. O objetivo era só um: associar o Fortaleza ao universo gay para fazer chacota. Um outro seguidor até me ajudou, afirmando: "Não iria fazer isso se fosse um hétero na festa de algum MC".
Houve também quem tentasse me dar um choque de realidade: "Não existe isso de coerência e ética em página de time de futebol, não. Torço Ceará, mas vê a reação até de mulheres aqui. Se fosse uma postagem machista contra o FEC, até elas iriam estar apoiando. Aqui não é lugar de gente racional".
Em parte, não tiro a razão dele. O futebol virou espaço para "irracionais" extravasarem. Alguns gritam, xingam, outros usam esse contexto emocional como desculpa para cometer crimes. E isso não pode ser tolerado ou normalizado. Quem não ficou com o coração na mão ao ver o jogador do Palmeiras Luighi aos prantos após ser chamado de "macaco"? O racismo e também a homofobia precisam ser banidos do futebol, e cabe às torcidas organizadas ajudarem nesse processo de conscientização, e não fazer o contrário, alimentando o ódio e o preconceito. O que foi "normalizado" precisa ser discutido e desconstruído. Para isso, contem com a minha ajuda. Serei, sim, o chato militante que não descansa. n
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