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Ler e bordar (em) Fortaleza
Foto de Izabel Gurgel
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Jornalista, leitora, professora. Criou e faz curadoria das séries A Cozinha do Tempo e Cidade Portátil, dentre outras atividades.

Ler e bordar (em) Fortaleza

Virgínia, que até os seis anos só falava japonês, aprendeu a ler e a bordar em casa, com a mãe.
Tipo Crônica
FORTALEZA, CE, BRASIL, 04-01-2015: Movimento de pessoas na ponte dos ingleses (PONTE METÁLICA), na Praia de Iracema. Obras do artista plástico, Sérvulo Esmeraldo. (Foto: Tatiana Fortes/O POVO) (Foto: TATIANA FORTES)
Foto: TATIANA FORTES FORTALEZA, CE, BRASIL, 04-01-2015: Movimento de pessoas na ponte dos ingleses (PONTE METÁLICA), na Praia de Iracema. Obras do artista plástico, Sérvulo Esmeraldo. (Foto: Tatiana Fortes/O POVO)

A família de Kikue Ezawa chega do Japão para morar no Brasil em 1924. Ela era uma menininha de um ano e dois meses. Hiroshi Fukuda chegou em 1928. Tinha 14 anos. Casam-se na década de 1940.

O casal faz parte de uma série de bordados da filha Virgínia Fukuda: "Crisântemo e Espada" (31cmx37cm), "As últimas férias" (39cmx27cm), "Carnaval de 1947" (25cmx39cm), "Batismo coletivo" (35cmx28 cm), "Renovação da Vida" (25cmx39cm), de 2017, fotos-fragmentos de histórias da família.

Virgínia, que até os seis anos só falava japonês, aprendeu a ler e a bordar em casa, com a mãe. "As coisas mais importantes na minha vida hoje, além de curtir os netos". Lucas, Martín, Santiago.

O bordado da Virgínia é uma escrita singular. Não só pela compreensão do bordado como linguagem. Mas da escrita no sentido de desenho e som e sentido das palavras, bordadas no que chamamos de livros de artista, em roupa, nas fotos citadas etc.

Quando fez 42 anos morando em Fortaleza, bordou uma blusa-monumento, no sentido de feita para lembrar. Uma inscrição de trajetória, percurso, uma espécie de relato de caminhos vividos. O tecido é linho. A cor, um rosa-magenta. A linha é branca.

Da Praia do Futuro ao Parque Manibura, onde construiu casa de morada, viver a cidade passa por marcos que fazem parte da parede da memória de tantas gerações. O pessoal como experiência inscrita no social.

Tem, dentre tantos pontos, Serviluz e o farol, Cocó com trilha e raposa (avistada pelos netos), Mercado dos Pinhões; Centro com praças e Catedral; Praia de Iracema com Dragão do Mar, Ponte dos Ingleses; Benfica com Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC). E chegadas e partidas: aeroporto, Mucuripe com porto e pescador, antiga Alfândega e atual Caixa Cultural.

Fotos e blusas expostas em "Ponto por ponto, linha por linha, palavra por palavra - Ler, bordar e outros modos de desenhar o mundo", curadoria nossa em 2018, parte do Mar de Leituras da rede de bibliotecas comunitárias Jangada Literárias.

Para a mesma série de fotos familiares bordadas criada pelo grupo Café com Bordado, Lourdes Bernardo bordou a foto de casamento dos pais. Maria do Carmo Agostinho Bernardo e José Nilson Bernardo se casaram em maio de 1961.

A presença de um fotógrafo "era coisa de luxo", conta Lourdes. Então, "dois dias após casados, meus pais vieram para Fortaleza de ônibus, vestidos de noivos, para serem fotografados".

Lourdes viveu parte da infância em "colônia japonesa em Guaiúba, o Núcleo Colonial Pio XII. Lourdes Bernardo também aprendeu a bordar em casa, com a mãe, bordadeira profissional.

O ato de ler pode ser uma experiência artística.

P.S.: Feliz aniversário, Fortaleza. Em 2026, Virgínia Fukuda completa 50 anos vivendo na Cidade.

Foto do Izabel Gurgel

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