Jéssica Castelo Branco é médica veterinária formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Fez residência multiprofissional com ênfase em reprodução animal pela mesma Instituição. Atualmente, dedica-se a clínica médica de pequenos animais e é professora de curso técnico profissionalizante para auxiliares de veterinários
Principal via de transmissão da toxoplasmose atualmente é a ingestão de alimentos contaminados e água não tratada
Foto: Arte: Rafael Ottoni/Secretaria da Saúde do Distrito Federal (SES-DF)
Diagnóstico requer exames
Agosto foi instituído como mês do Aleitamento Materno no Brasil pela Lei nº 13.435 em 2017. Este mês simboliza a luta pelo incentivo à amamentação e intensificação de ações de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento e demais cuidados com gestantes. Logo, o “Agosto Dourado” também é um momento oportuno para inocentar quem, ainda hoje, é condenado injustamente pela transmissão da toxoplasmose, uma zoonose conhecida como “doença do gato”, que assombra gestantes durante o pré-natal.
Zoonoses são doenças transmitas de animais para seres humanos, mas em alguns casos, como o da toxoplasmose, não é no contato direto com o animal que se adquire a doença. O gato é o hospedeiro definitivo do protozoário Toxoplasma gondii, agente causador dessa doença, o que significa dizer que o parasita pode ser encontrado nas fezes desse animal se ele estiver contaminado. Porém, a principal via de transmissão da toxoplasmose atualmente é a ingestão de alimentos contaminados e água não tratada.
A maioria das pessoas infectadas pelo Toxoplasma gondii não apresentam sintomas e, por isso, não precisam de tratamentos específicos. No entanto, a doença pode trazer complicações se adquirida pouco antes ou durante a gestação, pois a infecção congênita, aquela que é transmitida da pessoa gestante para o bebê, pode causar lesões oculares ou cerebrais graves. Esta infecção na gravidez também pode provocar aborto espontâneo, natimortalidade ou malformações.
E vale ressaltar que a toxoplasmose também pode ser uma doença muito perigosa para indivíduos que estejam com o sistema imunológico comprometido, como transplantados, pacientes infectados com o HIV ou em tratamento oncológico. Nos gatos, a sintomatologia é parecida com a descrita para humanos, a maioria dos gatos que são portadores do parasita não apresentam nenhum sintoma. Porém, gatos com baixa imunidade podem apresentar a forma grave da doença que tem sinais clínicos inespecíficos como apatia e febre, podendo evoluir para lesões oculares, no sistema respiratório e nervoso.
Em ambos os casos, o felino pode eliminar as formas infectantes do parasita nas fezes, contaminando assim a caixa de areia ou o solo. Muitos outros animais, incluindo os de produção, o cão e até mesmo pássaros podem adquirir o parasita ao entrar em contato com a areia ou solos contaminados, assim como também os vegetais plantados nestes locais.
Sendo assim, o Ministério da Saúde, elencou como principais medidas de prevenção a toxoplasmose:
Lavar as mãos ao manipular alimentos, principalmente carne crua;
Consumir água tratada, 100% potável;
Lavar bem frutas, legumes e verduras antes de se alimentar;
Limpar as superfícies de cozimento e os utensílios após contato com frutas ou legumes não lavados e carne crua;
Não ingerir carnes (de qualquer espécie animal) cruas, mal cozidas ou mal passadas, incluindo embutidos;
Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados.
Evitar o contato com o solo e a terra de jardim; se isso for indispensável, usar luvas e lavar bem as mãos após a atividade;
Quanto aos cuidados com seu pet deve-se:
Evitar o contato com fezes de gato na caixa de areia, no lixo ou no solo;
Propor que outra pessoa limpe a caixa de areia dos gatos e, caso isso não seja possível, tentar limpá-la e trocá-la diariamente utilizando luvas, máscara e pazinha;
Não deixar que o felino faça a ingestão de caça, carne crua ou mal passada.
Deste modo, os cuidados na prevenção da Toxoplasmose não implicam necessariamente não ter contado com o seu pet. É claro que durante o período gestacional, deve-se tomar bastante cuidado, lavando sempre bem as mãos após o contato com qualquer pet, principalmente antes das refeições. Mas é o manejo das fezes do seu felino e também a higienização dos alimentos que requerem o máximo de atenção. Então o contato, o carinho e as brincadeiras com seu gatinho estão liberados nesses nove meses de espera.
Podemos ver que apesar de ser uma doença muito grave para gestantes e bebês, a toxoplasmose tem como medidas de prevenção ações cotidianas bem simples que se resumem a higiene básica. Mas ainda sim, os números de pessoas infectadas são alarmantes. Entre 2019 e 2022, a análise da incidência epidemiológica de toxoplasmose congênita no Brasil, mostrou que 40 mil casos foram registrados.
Esses números revelam o quanto ainda há no Brasil falta de acesso à informação, condições sanitárias precárias em algumas localidades e que, mesmo gestante, a mulher ainda é a principal responsável pela maioria dos afazeres domésticos como o preparo dos alimentos, limpeza e manipulação dos dejetos dos pets, neste caso.
A Toxoplasmose está no rol de doenças rastreadas pelo exames pré-natais e pelo teste do pezinho. Na dúvida, sempre procure o(a) médico(a), infectologista, ginecologista, obstetra ou pediatra. Leve regularmente também seu gato ao veterinário para realizar exames e buscar o máximo de informações possíveis se sua família for aumentar de tamanho. Família protegida, é família informada e a prevenção sempre é o melhor caminho!
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