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A matemática da eleição francesa
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

A matemática da eleição francesa

Tipo Opinião
FRANCESES voltarão às urnas para o 2º turno dia 24 de abril (Foto: JOEL SAGET / AFP)
Foto: JOEL SAGET / AFP FRANCESES voltarão às urnas para o 2º turno dia 24 de abril

A França teve ontem o primeiro de 14 dias de uma campanha de 2º turno eleitoral que mexe com toda a Europa. Nas próximas duas semanas, o presidente centrista Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen colocam o pé na rua nessa corrida de tiro curto em busca dos votos dos eleitores dos postulantes derrotados no primeiro turno.

Costuma ser natural, na transição entre uma etapa e outra de um processo eleitoral, colocar a calculadora para trabalhar na contagem do “espólio” dos candidatos que não estão mais na disputa, para tentar medir o quanto os dois remanescentes podem herdar. Principalmente em contendas acirradas como o primeiro turno na França, onde Macron e Le Pen estão separados por pouco menos de cinco pontos percentuais (27,84% x 23,15%).

Após a divulgação das primeiras estimativas no último domingo, os candidatos derrotados trataram logo de marcar posicionamento junto ao eleitorado. Obviamente, e é bom que se destaque isso, essa transferência de votos não é automática. Se assim fosse, não precisaria nem de 2º turno.

Como era de se esperar, os candidatos da direita mais radical Éric Zemmour (4º lugar com 7,07%) e Nicolas Dupont-Aignan (em 9º, com 2,06%) declararam apoio a Le Pen, o que, em tese lhe conferiria cerca de 9% dos votos. Uma marca considerável em uma disputa acirrada, mas que para por aí.

Embora tenham sido marcadas pelo desempenho decepcionante, as candidatas dos partidos tradicionais franceses colocaram diferenças com Macron de lado e vão apoia-lo, deixando muito claro que a chegada de Le Pen ao poder deve ser evitada. Assim como o “caos resultante” disso, como enfatizou Valérie Pécresse, candidata dos Republicanos (direita), que obteve 4,78% dos votos e ficou na 5ª posição. Prefeita de Paris e candidata do hoje combalido partido Socialista, Anne Hidalgo (10º lugar com 1,75%) seguiu a mesma linha.

Com menor ênfase, os representantes dos Verdes, Yannick Jadot, (6º lugar com 4,63%) e do partido Comunista, Fabien Roussel (8º, com 2,28%) também vão pedir votos a Macron com o mesmo engajamento de quem está engolindo um cururu.

Somando todos eles, Macron estaria com cerca 13,5% a mais de votos. Porém, repetindo que a transferência não é automática e os candidatos não são donos dos votos dos eleitores.

Melénchon e o cálculo que não é lógico

Você pode até estar se perguntando de qual lado está aquele que mais chegou perto de ir ao 2º turno na França. O candidato de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon merece uma análise à parte. Com 21,95%, o representante do “França Insubmissa” é sem dúvida a bola da vez e a figura cujo os votos Macron e Le Pen veem como potencial para serem decisivos na definição de quem ficará no Palácio Eliseu até 2027.

Quando se pensa baseado na lógica, é de se imaginar que os votos de um candidato de extrema-esquerda vão migrar para aquele que está enfrentando uma adversária de extrema-direita, certo?

Não é bem assim. Jean-Luc Mélenchon é um político que construiu uma trajetória pautada em um forte nacionalismo francês e nas críticas à União Europeia, bandeiras historicamente levantadas por Marine Le Pen, que pode atrair parte desses eleitores. Nas pesquisas, os votos de Mélenchon estariam mais ou menos equilibrados, com um terço indo para Macron, um terço para Le Pen e um último terço de abstenções.

Curiosamente, no discurso após o resultado Mélenchon se posicionou mais pela rejeição que pelo apoio, indicando que “não se deve dar um único voto a Le Pen”, sem pedir votos para o atual presidente. Mais simbólica e direta ainda foi a fala de seu coordenador de campanha, Manuel Bompard: “Se Macron quer convencer nossos eleitores, ele que trabalhe”.

Seja por estratégia política do principal nome da esquerda hoje na França, seja por rejeição a Le Pen, não dá para dizer que Jean-Luc Mélenchon se absteve de se posicionar em um 2º turno. Mas dá para dizer que ele foi a Paris, onde, teve seu melhor desempenho nas urnas, vencendo até mesmo Macron na região da Île de France.

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