Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Gustavo Petro e Francia Márquez conseguiram feitos inéditos na história da política da Colômbia. Ele, o primeiro nome da esquerda a chegar à presidência de um país que sempre elegeu líderes de direita. Ela, a primeira mulher e a primeira negra na vice-presidência. Passada a vitória apertada de ambos no último domingo sobre Rodolfo Hernández, os desafios que aguardam o ex-prefeito de Bogotá e a advogada e ambientalista são enormes.
A vitória de Gustavo Petro se dá em um contexto de desgaste da direita tradicional que sempre governou a Colômbia, mas sequer chegou ao segundo turno nesta eleição. Iván Duque deixará o Palácio de Nariño com popularidade abaixo da linha dos tornozelos. A pobreza atinge cerca de 20 milhões de colombianos. O desemprego está na casa de 11%, a inflação de 9% e a informalidade é de 45%.
Os primeiros meses a partir de agosto serão decisivos para o governo Petro. É quando ele terá de construir pontes com atores que o veem com desconfiança, mas que serão fundamentais para que tenha estabilidade para administrar um país atualmente dividido.
A começar pelo Congresso, no qual Petro não tem maioria, embora esteja com uma boa bancada ao seu lado. Os olhares ressabiados também estão com o empresariado que ainda enxerga o futuro presidente como o ex-guerrilheiro do M-19, que vai destituir a propriedade privada. No discurso de vitória em Bogotá, Petro tentou passar uma mensagem tranquilizadora, para acalmar os mercados dizendo que não vai promover mudanças radicais no modelo econômico.
A relação com as Forças Armadas também merece atenção. Gustavo Petro teve durante a campanha vários momentos de atrito com os militares que deverão lhe jurar lealdade após a posse. A promessa do futuro presidente é que nomeará para a Defesa uma mulher ligada à pauta dos Direitos Humanos. Algo semelhante ao que Gabriel Boric fez no Chile escolhendo para a pasta Maya Fernández Allende, neta de Salvador Allende.
Um ponto importante a ser notado no governo de Petro é o contexto continental em que ele se dará, a partir de 7 de agosto. A vitória da esquerda na Colômbia não foi apenas o sucesso eleitoral em um bastião da direita na América do Sul. Ela consolida sequência de triunfos recentes, como as de Pedro Castillo (Peru) e Gabriel Boric (Chile), e altera ainda mais o equilíbrio de forças na região.
Após o resultado do último domingo, a esquerda governará oito países a partir da posse de Petro: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Guiana, Suriname, Peru e Venezuela. Já a direita ocupa o poder em quatro: Equador, Paraguai, Uruguai e Brasil, com este último a ter eleições em outubro nas quais o candidato da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, é o favorito segundo as pesquisas.
A “Onda Rosa”, guinada à esquerda no início do século XXI na América do Sul, colocou no poder nomes como o próprio Lula, o casal Néstor e Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Pepe Mujica e Tabaré Vásquez (Uruguai) e Hugo Chávez (Venezuela).
O “rosa”, no caso, tem relação com líderes de esquerda que em um determinado momento adotaram um discurso mais moderado e ao centro, um vermelho mais leve. Se eles se mantiveram assim ao longo dos mandatos varia de caso a caso e são outras histórias.
Após a derrocada da esquerda no meio da última década, com sucessivas derrotas entre 2016 e 2019, o campo progressista sul-americano dá sinais de que volta a consolidar o poder na região. Porém, sem os contextos econômico, político e social favoráveis como há duas décadas atrás. Hoje, as sociedades sul-americanas estão muito mais divididas e os desafios de união em prol de uma estabilidade democrática e institucional são muito maiores.
No caso de Gustavo Petro, ele certamente buscará esse diálogo com as principais lideranças do continente, mas terá de lidar também com uma elite mais ligada às relações com os Estados Unidos, que sempre colocou a Colômbia como um dos principais parceiros estratégicos do ponto de vista comercial e no combate ao tráfico internacional.
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