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Bolsonaro, o constrangimento e os embaixadores
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Bolsonaro, o constrangimento e os embaixadores

Tipo Notícia
CASO é referente ao encontro de Bolsonaro com embaixadores estrangeiros no qual o ex-presidente disseminou desinformação (Foto: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República)
Foto: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República CASO é referente ao encontro de Bolsonaro com embaixadores estrangeiros no qual o ex-presidente disseminou desinformação

O Palácio do Planalto organizou o evento, preparou o PowerPoint para guiar o discurso do presidente e caprichou no cerimonial para a recepção de dezenas de embaixadores estrangeiros. Os erros grosseiros de grafia e tradução para o inglês nos slides foram apenas uma cereja no bolo de parvoíce. O evento não passou pelo Itamaraty e ficou a cargo do núcleo mais próximo de Jair Bolsonaro, que até deu um tapa no corte de cabelo para tentar causar uma boa impressão perante os distintos convidados.

O resultado não poderia ser mais embaraçoso. Bolsonaro repetiu frases descontextualizadas e voltou a atacar o TSE, o STF e as urnas eletrônicas. E o fez da maneira mais previsível, sem apresentar provas e desrespeitando a inteligência de quem se dispôs a acompanhar a reunião. Sem um pingo de criatividade, o presidente levou aos representantes diplomáticos o seu usual discurso de descrédito do sistema eleitoral. Na prática, quis passar ao mundo uma mensagem de “eu avisei” se/quando tentar melar o resultado de uma eleição que não se desenha favorável a ele.

Também não é novidade, mas é importante que se enfatize. Bolsonaro mentiu mais uma vez ao questionar a lisura do processo eleitoral. E o fez mais uma vez sem apresentar provas. Por mais de uma hora, o presidente usou de meios institucionais oficiais para mentir sobre uma eleição marcada para ocorrer em menos de três meses e da qual ele é diretamente interessado. O que aconteceu ontem foi muito grave.

É praxe entre embaixadores atender a convites de chefes de Estado. Ir ao evento organizado por Bolsonaro não significa endosso às barbaridades que ele disse. Está incluído no fazer diplomático a habilidade de encontrar saídas discretas e eficazes para situações constrangedoras ou adversas entre os países envolvidos. Os aplausos discretos no fim do discurso traduzem mais o sentimento de constrangimento e vergonha alheia entre os presentes que alguma crença nas teses infundadas do presidente sobre fraude nas urnas.

Quando um representante de embaixada vai a um evento como o de ontem, ele não vai como um alienígena que acabou de pousar na Terra. Todos ali sabem muito bem quem é Bolsonaro, o que ele quer e do que ele é capaz. Todos assinam ou têm acesso a relatórios de inteligência nos quais são constantemente reportados aos seus países a situação política/eleitoral brasileira.

Também é uma característica de embaixadores e cônsules a capacidade de falar sem dizer. Garantir que a mensagem seja passada sem se expor desnecessariamente. Presente no evento de ontem, o embaixador da Suíça Pietro Lazzeri afirmou que, no ano do Bicentenário da Independência do Brasil, deseja “ao povo brasileiro que as próximas eleições sejam mais uma celebração da democracia e das instituições”.

Ora, quem deseja “mais uma celebração da democracia”, quer que o processo eleitoral deste ano transcorra de maneira igual ao dos pleitos anteriores. Ou seja, sem golpes ou tentativas de rupturas institucionais.

 

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