Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Como de costume, o presidente brasileiro abrirá hoje a 77ª edição da Assembleia-geral da ONU, em Nova York. Normalmente, o Itamaraty monta um esqueleto do discurso que deve durar de 10 a 15 minutos. Porém, a redação final fica a cargo do Palácio do Planalto. Aí é onde mora o perigo.
Se os diplomatas do Itamaraty sugerem que Jair Bolsonaro aborde temas como os desafios internacionais para o pós-pandemia e soluções para o conflito entre Rússia e Ucrânia, a tendência é que ele dedique uma parcela reduzida dos discursos a esses assuntos. Como tem sinalizado nas últimas semanas, o presidente não vai se fazer de rogado em usar a tribuna da ONU como mais um palanque eleitoral.
Se entrar na seara de outros assuntos como a segurança alimentar global, Bolsonaro cairá no risco quase inevitável de voltar a mentir. Ao passo que deve falar do Brasil como uma potência do agronegócio exportador alimentos, certamente irá omitir ou falsear dados da fome no país. Paralelo semelhante é possível de imaginar em relação à crise energética mundial e preços dos combustíveis por aqui.
Além disso, a agenda de encontros bilaterais de Bolsonaro na ONU nunca foi tão esvaziada. Reuniões com os presidentes da Guatemala, Alejandro Giammattei, e da Sérvia, Aleksandar Vuci, de tão desimportantes, foram canceladas. Estão mantidos os encontros com Guillermo Lasso (Equador) e Andrzej Duda (Polônia). Com esses últimos, Bolsonaro busca uma interlocução internacional no campo conservador, mas nada de tanto peso.
Haverá ainda um almoço de Bolsonaro com apoiadores que moram nos EUA em uma churrascaria brasileira em Nova York. Desse compromisso, o presidente nunca abre mão.
A guerra entre Rússia e Ucrânia deve dominar a reunião anual de líderes na ONU. Essa é a primeira Assembleia-geral desde o início do conflito e as discussões devem girar em torno das sanções a Moscou, apoio militar e econômico a Kiev e a tentativa de países em desenvolvimento de abordar outros temas como segurança alimentar e questões de saúde como a varíola dos macacos.
Antes de Nova York, a passagem de Jair Bolsonaro por Londres não pode ser vista por menos do que uma vergonha. Primeiro por usar a sacada da Embaixada do Brasil no Reino Unido para fazer um comício diante de apoiadores. Horas depois, parou em um posto de combustíveis para gravar um vídeo comparando os valores cobrados lá em libras com os vistos nas bombas daqui. Intencionalmente desconsiderando variáveis como diferenças de salário e custo de vida nos dois países.
Bolsonaro viajou com um propósito oficial: representar o Brasil como chefe de Estado em um cerimonial fúnebre de uma outra chefe de Estado. O mínimo que se deve esperar é a empatia com os enlutados. Isso vale se você é presidente ou não. Embora compreender a dor do outro com a morte não é algo que tenha feito parte da rotina dele nos últimos dois anos e meio, pelo menos.
Não interessa se está ocorrendo no Brasil um processo eleitoral do qual ele faz parte. Ninguém obrigou Bolsonaro a viajar para participar do cerimonial fúnebre de Elizabeth II (rainha que apesar das muitas ressalvas, sempre pôs o cargo que ocupava em primeiro lugar).
Se a eleição é a prioridade para ele, que simplesmente não viaje. Ao fazer um comício como o do último domingo, o presidente brasileiro não só desrespeita o luto dos britânicos. Ele despreza o cargo pelo qual foi eleito em 2018 e tenta ser reconduzido agora.
A passagem de Bolsonaro por Londres foi mais uma demonstração chinfrim de que seu método é descredibilizar as instituições, inclusive a própria Presidência da República, de maneira a viabilizar suas fustigadas antidemocráticas. Todo chefe de Estado é menor que o cargo o qual ocupa. Sem exceção. Mas Bolsonaro faz questão e, o pior, tem orgulho de ser minúsculo.
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