Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Ao que tudo indica e se não houver alguma reviravolta, Mauro Vieira deve ser nomeado ministro das Relações Exteriores a partir de 2023 por Lula. Embora ele tenha construído uma trajetória diplomática respeitável, a provável opção pelo nome de Vieira passa a sensação de um déjà-vu, sobretudo por não ser uma mulher, caso se confirme, a escolha por ele.
Embora o presidente eleito não tenha prometido isso, havia a expectativa de que fosse desta vez. Parece inacreditável, mas em 200 anos desde a Independência, o Brasil nunca teve uma mulher à frente de sua diplomacia. Na América do Sul, além do Brasil, apenas o Uruguai nunca teve uma mulher chanceler. A Colômbia, para ficar somente com um exemplo na região, teve sete. O Peru e o Suriname, outras quatro cada.
A vitória de Lula criou a perspectiva, aqui e lá fora, de virada de chave na diplomacia em relação aos anos de Jair Bolsonaro. A sinalização era de um retorno a uma política externa brasileira mais altiva e ativa, o que definitivamente não está descartado em caso de nomeação de Mauro Vieira. O horizonte segue mais auspicioso que o passado de pária.
No entanto, essa mudança de 180 graus, aguardada até mesmo com ansiedade acima do normal, é simbolicamente freada na escolha de um homem que não trará necessariamente o impacto e o frescor da novidade para a diplomacia brasileira.
Como bem pontuou nas redes sociais o professor Guilherme Casarões, da FGV, “parte do entendimento de que a promoção da paz deve incluir mulheres e meninas - e que a paz só prevalecerá por meio da igualdade de gênero.”
A diplomacia é o rosto do país além das fronteiras. O mundo recebeu com entusiasmo a vitória de Lula, projetando no presidente eleito o contraponto a Bolsonaro e como um símbolo capaz de servir como catalisador de um planeta mais sustentável do ponto de vista ambiental e menos desigual socialmente.
A mudança de imagem dos últimos que o Brasil quer trabalhar a partir de 2023 teria um efeito de bem mais impacto tendo uma mulher à frente da diplomacia. E não faltam bons quadros dentro do Itamaraty – ou mesmo fora dele – capazes de assumir a missão.
Antes que sejam só críticas, a escolha de Mauro Vieira para o Itamaraty, caso seja confirmada, é uma bola de segurança e de confiança para Lula. É alguém que já ocupou este cargo durante o segundo governo Dilma Rousseff além de ter sido o representante permanente do Brasil na ONU (2016-2019) e chefiado missões diplomática cruciais como as embaixadas nos Estados Unidos (2010-2014) e na Argentina (2004-2009).
Mas é uma escolha que não atenderia tão bem a mudança de imagem que o Brasil deseja. É uma escolha que não teria a ousadia que os tempos de hoje pedem. É uma escolha que manteria uma dívida de dois séculos (mais uma) de representatividade de gênero.
A escolha por mulheres para ocupar os principais cargos da diplomacia é uma tendência crescente ao longo das décadas. Entre 1947, ano de nomeação da primeira ministra de relações exteriores (Ana Pauker, da Romênia), e 1992, foram 23 mulheres neste posto, considerando os membros da ONU.
Nos 10 anos posteriores, entre 1992 e 2002, o número já dobrou e chegou a 46. No decênio subsequente, de 2002 a 2012, foram 78. Nos últimos dez anos, foram 119 mulheres nomeadas ministras de Relações Exteriores ou para cargos homólogos.
Dos 193 países-membro das ONU, quase dois terços (127) tiveram ministras de Relações Exteriores em algum momento da história. E o Brasil está prestes a chegar em 2023 sem ser um deles. E olha que nessa lista estão inclusos estados onde o espaço de representatividade feminina é muito mais restrito. Atualmente, considerando os afiliados às Nações Unidas, são 41 mulheres (21%) ocupando o posto máximo da diplomacia de seus respectivos estados.
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