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Maduro volta ao Brasil
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Maduro volta ao Brasil

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Tipo Notícia
MADURO está no Brasil para reunião 
de chefes de Estado sul-americanos (Foto: EVARISTO SA / AFP)
Foto: EVARISTO SA / AFP MADURO está no Brasil para reunião de chefes de Estado sul-americanos

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Após um hiato de oito anos, Nicolás Maduro volta a pisar em solo brasileiro. Nesse período, falar das relações entre Brasil e Venezuela significou quase sempre cair em uma discussão pouco profunda, limitada a estereótipos usados como argumentos de direita e de esquerda.

A Venezuela é um país que compartilha uma enorme fronteira com o Brasil. Portanto, nada mais natural os dois países preservarem relações diplomáticas para tratar dos mais diversos temas: econômicos, sanitários, migratórios, de segurança são apenas alguns deles.

Políticos também. Um país não pode conversar só com quem é ideologicamente alinhado. Governos vêm e vão. Relações de Estado devem permanecer. Mesmo aqueles nos quais a autocracia prevalece, como é o caso da Venezuela, da China, da Arábia Saudita e tantos outros.

Se for para esperar relações só com quem é democrático, sobra pouca gente. O realismo como teoria das relações internacionais e o pragmatismo como prática se impõem e ter reuniões bilaterais com autocratas não significa necessariamente dar aval a ditaduras.

Pecado por excesso

Isto posto, é completamente dispensável Lula sugerir que a Venezuela não tem hoje um regime antidemocrático. Não é preciso negar o óbvio apenas para agradar um interlocutor que depende e tem conseguido recentemente uma reinserção internacional.

A visita de Maduro em si já é uma vitória diplomática para ambos os lados e já deveria bastar como gesto. Assim como nas declarações em relação à guerra na Ucrânia, Lula trilha um caminho coerente, mas peca por excesso logo em seguida.

Tem mais chances de ganhar o jogo diplomático aquele que fala as palavras certas entre dois silêncios. 

O que muda com mais uma vitória de Erdogan

Recep Tayyip Erdogan conseguiu mais cinco anos de poder na Turquia. Caso cumpra o mandato até o fim, serão 25 anos com ele no poder em um país que completa um século em 2023 e que tende a intensificar a própria fragilização democrática.

Sob o ponto de vista internacional, Erdogan tem como traço marcante a adoção de uma política externa personalista e agressiva, o que é bem visto pelo eleitorado. Com ele seguindo no poder por mais cinco anos, a tendência é de que as relações da Turquia com o Ocidente e com a Rússia se tornem ainda mais ambíguas. Além de estratégico, é até simbólico, no aspecto geopolítico, que o elo entre Europa e Ásia trabalhe na dubiedade.

Por um lado, a Turquia é membro e possui um dos maiores exércitos da Otan. Por outro, tem sido a principal barreira para a entrada da Suécia na aliança militar. Em 2019, a Turquia comprou da Rússia um conjunto de sistemas de mísseis de defesa aérea S-400, o que lhe tirou do consórcio liderado pelos EUA de desenvolvimento do caça F-35.

Turquia e Rússia estão em lados opostos na guerra na Síria. Contudo, Erdogan tem relação estreita com Vladimir Putin e se recusa a aplicar sanções à Rússia. Para tornar a leitura ainda mais complexa, a Turquia fornece drones para a Ucrânia ao mesmo tempo em que atua como mediador no acordo que permitiu a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro.

Trabalhando sempre na imprevisibilidade, o presidente turco tende a ampliar a projeção da Turquia como potência regional na Europa e no Oriente Médio. Erdogan é o principal responsável pela erosão da democracia turca e a perseguição a opositores há muito tempo deixou de ser surpresa. Embora não desperte a confiança do ocidente, este não pode prescindir de ter-lhe como aliado.

Internamente, Erdogan seguirá com seu projeto de uma Turquia mais distante do secularismo kemalista que foi base do estado fundado 100 anos atrás. Tudo leva a crer que a liberdade de expressão dos opositores continue sendo vilipendiada e a população LGBTQIA+ no país siga como alvo de crimes de ódio.

Erdogan nunca chegou a uma eleição tão fragilizado politicamente, mas saiu vitorioso. Por uma margem estreita (52,18% contra 47,82 do opositor Kemal Kiliçdaroglu), mas ainda assim uma vitória. Terá em mãos um país dividido, debilitado economicamente por culpa de seu presidente e destroçado socialmente após um terremoto devastador que matou mais de 50 mil pessoas em fevereiro.

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