Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Os resultados das primárias na Argentina realizadas no último domingo, 13, marcaram a entrada para valer de uma terceira força que se mostra com potencial para quebrar a polarização entre peronistas e antiperonistas que está há duas décadas na Casa Rosada. Javier Milei é o nome da vez a causar arrepios em adversários, em mercados e em qualquer ser humano que tenha um mínimo de bom senso.
Em um sistema que só existe por lá, essas prévias chamadas de “Paso” (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias) – definem os candidatos das eleições presidenciais e funcionam como uma espécie de ensaio para o pleito de outubro. Na prática, essa “jabuticaba argentina” é uma espécie de termômetro que sinaliza quem tem mais chances de vencer, embora nem sempre quem ficou em primeiro nas Paso se tornou presidente.
Autointitulado “anarcocapitalista ultraliberal”, Milei surpreendeu e obteve 30% dos votos na liderança das primárias. As pesquisas o colocavam com aproximadamente 10 pontos a menos.
Milei é mais um nome da extrema-direita latino-americana que se destacou com discursos estridentes e enfáticos antissistema. Ele se encaixa no perfil do que nos últimos anos simplificou-se de chamar pelo continente de “Bolsonaro do país X” ou o “Trump do país Y”.
Guardando semelhanças e diferenças de trajetórias e contextos com os ex-presidentes brasileiro e americano, Javier Milei ultrapassa a defesa de um Estado mínimo para advogar por um Estado praticamente inexistente. O seu “Plano Motosserra” – e sim, ele já apareceu em programas sensacionalistas de TV portando o instrumento para cortar árvores – se propõe a reduzir a oito o número de ministérios, extinguindo inclusive pastas como Saúde e Educação.
Ele pretende ainda, se eleito, acabar com o Banco Central, dolarizar a economia argentina e tirar o país do Mercosul. O eleitorado de Milei é majoritariamente de homens jovens (entre 19 e 30 anos) desesperançosos com os rumos da economia do país e com raiva da classe política.
Resumidamente, é mais um político de extrema-direita a oferecer soluções fáceis e invariavelmente vazias para problemas complexos. Sempre com espetacularização nos vídeos, palavrões nos discursos e misoginia na essência.
A reação dos mercados nesta segunda-feira após o resultado das primárias era pedra cantada. Em uma Argentina que tem a terceira maior inflação do mundo (115% nos últimos 12 meses) e vive se desdobrando para honrar seus compromissos com o FMI, o peso desvalorizou 18% em apenas um dia.
O bom desempenho de Milei nas primárias chama atenção pelo fator surpresa. A desconfiança e os temores de uma eventual vitória do candidato da coalizão “A liberdade avança” são naturais dado o resultado do último domingo. Mas ainda é cedo e precipitado falar em favoritismo de Javier Milei.
Mesmo com os líderes dos principais grupos políticos da Argentina (os ex-presidentes Cristina Kirchner e Maurício Macri) fora da disputa, as candidaturas “mais hegemônicas” continuam com grande capital eleitoral.
Atual ministro da Economia, Sergio Massa obteve 21,4% dos votos e será o candidato do peronismo e do grupo kirchnerista nas eleições de outubro. Ele superou com folga o postulante de centro-esquerda Juan Grabois (5,9%). Ao todo, a aliança “União pela Pátria” que terá Massa como candidato teve 27,3% dos votos, ficando em 3º lugar.
No grupo antiperonista, Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança durante o governo Macri, obteve 17% dos votos e superou o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta (11,3%). A coalizão “Juntos pela Mudança” tem, portanto, 28,3% da preferência do eleitorado no momento.
Além dos votos de Larreta, Patricia Bullrich apostará em uma plataforma conservadora e em defesa da austeridade econômica para, com um possível desgaste da candidatura de Javier Milei, roubar-lhe votos no campo da direita.
Dado o contexto de crise permanente na Argentina, mas que se agravou nos últimos anos, o resultado para Sergio Massa e o kirchnerismo não é de todo ruim e ele pode se aproveitar de uma eventual fagocitose mútua na direita. Millei, por sua vez, tentará tirar votos de Bullrich para, quem sabe, vencer em primeiro turno.
Diante de um cenário tão parelho, tudo pode acontecer. Após as prévias, as três principais candidaturas têm pontos de partida muito próximos e possuem muitas fraquezas a serem exploradas, o que dá margem para mudanças de humor do eleitorado e reviravoltas até outubro.
A regra eleitoral argentina também tem peculiaridades. Um candidato vence em primeiro turno apenas se: a) atingir 45% dos votos; b) obtiver 40% com diferença de pelo menos 10 pontos em relação ao segundo colocado. Caso nenhuma dessas alternativas ocorram, o segundo turno entre os mais bem colocados está marcado para novembro.
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