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Milei é apresentado ao pragmatismo
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Milei é apresentado ao pragmatismo

Tipo Opinião
 CHANCELER indicada por Milei, Diana Mondino encontrou Mauro Vieira (Foto: ITAMARATY/GOV)
Foto: ITAMARATY/GOV  CHANCELER indicada por Milei, Diana Mondino encontrou Mauro Vieira

Ainda falta menos de duas semanas para Javier Milei pegar as chaves da Casa Rosada e tomar posse como presidente da Argentina, mas ele já parece estar sentindo na pele que a prática do poder impõe uma realidade muito diferente de suas promessas histriônicas e mirabolantes antes de ser eleito.

Durante a reta final da campanha o discurso do então candidato autointitulado “ultralibertário” já se mostrava bem mais comedido em relação ao que se via dele no primeiro turno. A palavra dolarização praticamente não foi dita por Milei nas últimas três semanas de disputa eleitoral. Perguntado sobre o tema, ele "se fez de doido" e mudou de assunto.

Embora ainda persista e seja citada diretamente por ele, a promessa de extinguir o Banco Central também foi aos poucos mudando de cara. Ganhou um prazo mais estendido para ser implantada e uma roupagem mais branda.

Quem senta na cadeira de presidente da Argentina, independentemente de quem seja, precisa ter como atributo central a capacidade gerir bem várias crises simultâneas. E é impossível fazer isso sem pragmatismo, apenas engajando nas redes sociais com gritos e bravatas.

Javier Milei é um economista medíocre, parece um desajustado, mas não chega a ser burro. E já entendeu que precisará ceder internamente e externamente, contradizendo muito do que disse em campanha, para conseguir se manter no poder.

Uma virada muito clara é a postura do futuro governo Milei em relação ao Brasil. A visita de Diana Mondino, provável ministra de Relações Exteriores, para entregar ao chanceler Mauro Vieira carta convidando o presidente Lula à posse no dia 10 de dezembro em Buenos Aires é um movimento bastante sintomático desse recuo.

Milei já está sendo engolido pelo pragmatismo que acaba de conhecer. Isso não significa, contudo, que ele está domesticado ou se tornou incapaz de cometer os grandes absurdos tão falados por ele próprio.

Mas ele precisa do Brasil de Lula e do Mercosul em acordo com a União Europeia. Assim como depende da China e seu socialismo de mercado e da direita tradicional liderada por Mauricio Macri. Ceder faz parte da sobrevivência política e não necessariamente invalida convicções ou intenções.

Lula deveria ir à posse de Milei?

Não me parece haver uma resposta totalmente certa ou totalmente errada para a pergunta acima Se Lula fosse, acertaria em colocar a relação entre Estados acima das opiniões individuais. Mas erraria em se expor a um ambiente hostil onde pouco lhe serviria como acréscimo político.

Se Lula não for, como já é praticamente definido que não irá, acertará ao reagir de maneira firme, não aceitando que os temos da relação entre Brasil e Argentina e seus presidentes sejam aqueles colocados por Milei antes de ser eleito. Por outro lado, erraria ao criar manter barreiras num diálogo difícil, mas necessário.

Nessa balança, a decisão de ir ou não à posse de Milei ganha contornos mais simbólicos do que práticos para Lula. Embora nessa prática diplomática os gestos sejam essenciais, uma boa relação também se constrói no dia a dia.

E o tempo vai ser algo importante para o presidente brasileiro medir com quanto de pragmatismo e com quanto de impulso Javier Milei pretende guiar este "buque" sem rumo chamado Argentina.

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