Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Como esperado, o plebiscito na Venezuela que consultou a população a respeito da anexação da região do Essequibo – que pertence à Guiana – teve resultado favorável ao governo de Nicolás Maduro. As próprias perguntas foram formuladas com a clara intenção de induzir a vitória do “sim”.
Embora o resultado tenha sido significativo (quase 96%), é questionável o comparecimento da população às urnas. Tanto que o governo estendeu o período de votação como forma de tentar conferir uma maior legitimidade à sua vitória. O ponto mais importante a ser destacado talvez seja a grande distância existente entre a possibilidade real de invasão venezuelana para tomar o Essequibo da Guiana e o discurso do governo.
O cenário para uma invasão propriamente dita não é muito realístico. A Venezuela não receberia o respaldo de nenhum outro país se quisesse tomar para si o Essequibo. O Brasil vê a questão com preocupação e já rechaçou qualquer tipo de ação militar que viole o território da Guiana.
Outros países como EUA, Colômbia e Reino Unido também ficariam ao lado dos guianeses. Até mesmo potências aliadas do regime de Maduro como Rússia e China não desejam um conflito na América do Sul por terem atualmente outras questões a se preocupar.
Nicolás Maduro tenta desviar o foco dos inúmeros problemas da Venezuela que vão desde a economia em profunda crise, passam pela legitimidade de seu governo e pela ausência de um arcabouço democrático no país e desembocam na descrença de que a eleição de 2024 possa ser considerada livres e transparente.
O autocrata governante da Venezuela apela à velha prática de discursar com um nacionalismo barato como forma de unir uma população dividida em torno de uma causa comum. Causa esta que teria ele, Maduro, como figura central a ganhar politicamente.
A região pleiteada pelo governo Maduro abrange quase dois terços do território guianês. O Essequibo é uma reivindicação histórica da Venezuela, não é de hoje. O Acordo de Genebra assinado em 1966 reconhecia a área como parte da Guiana, à época ainda uma colônia britânica.
De lá pra cá, vira e mexe o assunto voltava à tona, com a Venezuela alegando que o acordo de 1966 não era mais válido por ter sido firmado antes da independência da Guiana. O próprio Hugo Chávez chegou a arquivar a reivindicação em 2004, encerrando temporariamente a discussão.
No entanto, as grandes reservas de petróleo encontradas no subsolo do Essequibo fizeram crescer os olhos do mundo para a Guiana, que passou a ter um potencial energético semelhante a países do Golfo Pérsico como o Kuwait.
Mesmo improvável, um conflito armado seria tudo que o Brasil e seus vizinhos menos precisam. Apesar da atávica instabilidade política e econômica na América do Sul, é possível dizer que a região esteve livre de grandes tensões militares nas últimas décadas.
Ao contrário de outros pontos do planeta como o Oriente Médio, os Balcãs ou o Cáucaso, por exemplo. O último conflito sul-americano mais significativo aconteceu há mais de 30 anos, na Guerra do Cenepa, entre Peru e Equador, que durou pouco mais de um mês em 1995.
Com países carentes de investimentos externos, a América do Sul seria severamente impactada economicamente porque, mesmo com toda a instabilidade política, ainda é vista pelo mundo como um local seguro em relação a conflitos armados.
Além disso, uma incursão armada da Venezuela contra a Guiana seria a imposição de um grande desafio diplomático para o Brasil. Um grande teste para o governo Lula, que busca uma reinserção do país no papel de liderança regional.
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