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Quando não for mais Putin, quem será?
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Quando não for mais Putin, quem será?

Tipo Opinião
VLADIMIR Putin poderá ficar no poder até 2036 (Foto: NATALIA KOLESNIKOVA / POOL / AFP)
Foto: NATALIA KOLESNIKOVA / POOL / AFP VLADIMIR Putin poderá ficar no poder até 2036

Vladimir Putin teve seu mandato renovado por mais seis anos em uma eleição protocolar, na qual aqueles com remota chance de lhe impor alguma dificuldade foram impedidos de disputar. Eleito presidente pela primeira vez em 2000 – e com um breve intervalo como primeiro-ministro entre 2008 e 2012 – ele deverá atingir três décadas no Kremlin e ultrapassar Josef Stálin, que ficou 28 anos no poder durante o período soviético.

Graças a uma mudança constitucional promovida por ele próprio, é difícil hoje pensar que Putin não conseguirá uma nova reeleição daqui a seis anos, o que o deixaria à frente da maior potência nuclear do mundo até 2036. Isso faria dele o líder russo mais longevo da história, superando a imperatriz Catarina, a Grande (1762-1796).

Em 2036, ele estará com 83 anos. E ninguém é capaz de apostar que até lá ele não faria outra manobra para ficar no cargo de maneira vitalícia. A forma como Putin construiu sua trajetória no Kremlin fez dele refém do enorme poder em torno de si.

Chega a ser difícil imaginar Putin fora do poder na Rússia ou que isso de fato aconteça com ele em vida, tamanha centralização com a qual conduz o país de forma autocrática e sem espaço para o surgimento de sucessores viáveis muito claros.

Quem pode suceder

Ao longo da próxima década, alguns nomes do círculo mais íntimo de Putin podem se tornar mais frequentes quando o assunto for sucessão. Porém, ao longo de 12 anos e quando se trata de lealdade ou traição, aliados podem se transformar em inimigos com os dias contados. Vide o que aconteceu com o finado Yevgeny Prigozhin e tantos outros envenenados ou que caíram misteriosamente de janelas.

Aqui alguns deles: Mikhail Mishustin (primeiro na linha sucessória em caso de morte de Putin); Dimitry Medvedev (ex-presidente e maior porta-voz da ala mais radical do putinismo); Nikolai Patrushev (conselheiro e um dos poucos a quem Putin realmente dá ouvidos); Sergei Kiriyenko (primeiro vice-chefe de gabinete e um dos raros com quem Putin conversa diariamente); e Sergey Shoigu (ministro da Defesa que sempre mostrou lealdade a Putin).

O medo do imprevisível

Com razão, o Ocidente enxerga Putin hoje como uma ameaça. Um fator de instabilidade para a Europa, principalmente após as invasões à Ucrânia de 2014 e 2022. Mas o que não se deve perder de vista é que ele também é um agente aglutinador de uma grande diversidade de correntes políticas na política interna russa.

Algumas dessas correntes com uma visão mais moderada, mas com a maioria delas defendendo uma postura mais agressiva em relação ao papel da Rússia no mundo. E todas concordando com a ideia de que o maior país do mundo deve responder de maneira ainda mais dura ao avanço da Otan observado nas últimas décadas.

Uma visão compartilhada até mesmo por opositores como o também finado Alexey Navalny, que defendia uma ação mais incisiva na Ucrânia. Ou mesmo o Partido Comunista Russo – maior “ameaça eleitoral” a Putin ao longo das últimas décadas e que em 2024 terminou em 2º lugar com discretos 4,37% – com um longo histórico contra a Otan.

Se o Ocidente teme um futuro com Putin, sem ele o cenário é totalmente imprevisível. Com a possibilidade real de ascensão de nomes cujas ideias extremistas poderiam em última instância iniciar um conflito nuclear capaz de colocar fim aos dias na Terra.

Um pênalti sem goleiro

Na eleição do último fim de semana, Putin venceu com 88,5% dos votos numa disputa em que adversários que se opõem à invasão russa à Ucrânia – como o político de centro-direita Boris Nadezhdin e a jornalista Yekaterina Duntsova – foram impedidos de participar.

Na Rússia, o voto não é obrigatório. Mas as inéditas eleições realizadas ao longo de três dias e uma forte campanha do governo de incentivo ao voto, fizeram com que o pleito deste ano registrasse o maior comparecimento da história russa pós-soviética (77,4%).

As urnas neste caso servem para dar um ar de legitimidade a um regime notadamente autocrático. A eleição de Putin foi um pênalti sem goleiro, no qual caberia a ele apenas empurrar para o gol a disputa em que todos já estavam cientes do desfecho.

Somados, os adversários dele ficaram com 11,5%. E nenhum deles fez críticas muito contundentes a Putin por concordarem com parte de suas ações internas e externa ou por uma questão de amor à vida mesmo.

Muito provavelmente, Putin não precisava disso tudo para vencer. Embora contestado no Ocidente, é um líder popular internamente e, mesmo se não restringisse liberdades na Rússia, dificilmente não ganharia a eleição. No entanto, ele precisava da margem que obteve para legitimar e reforçar sua retórica ante a guerra na Ucrânia. Era necessário para ele o respaldo de uma alta votação para justificar suas ações e mitigar eventuais críticas.

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