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O voto de embaraço em Biden
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

O voto de embaraço em Biden

Em 2016 e 2020, o voto envergonhado em Trump distorceu pesquisas e fez o desempenho do republicano nas urnas ser melhor do que o esperado. Nas eleições deste ano, esse eleitor mais constrangido pode estar ao lado do democrata
Tipo Opinião
CONFLITO em Gaza tem se mostrado um desafio cada vez maior para Biden (Foto: MANDEL NGAN / AFP)
Foto: MANDEL NGAN / AFP CONFLITO em Gaza tem se mostrado um desafio cada vez maior para Biden

A pesquisa de intenção de voto para a eleição americana divulgada na última semana pela Ipsos/Reuters indica a manutenção do cenário de equilíbrio e indefinição da disputa entre Joe Biden e Donald Trump. Em três semanas, a vantagem de quatro pontos em favor do democrata no levantamento anterior (41% x 37%) foi reduzida a um (40% x 39%).

O formato da eleição americana implica que as pesquisas sejam sempre analisadas com muitas ressalvas que não podem ser desconsideradas. Primeiro porque o voto facultativo é um fator de distorção nas sondagens.

Além disso, o sistema de colégios eleitorais, com pesos diferentes para cada estado, faz com que uma pesquisa de voto direto não assegure que o cenário seja retrato de uma forma tão precisa. Por fim, a margem de erro de três pontos percentuais muda quase nada o panorama de empate técnico entre Biden e Trump.

Ponderações postas, a pesquisa Ipsos/Reuters reproduz a tendência apontada em outros levantamentos de disputa voto a voto entre os candidatos democrata e republicano. Sobretudo nos “swing states”, estados nos quais não é possível cravar quem será o vencedor e que podem mudar de humor em relação ao último pleito.

A relação entre aquilo que as pesquisas têm apontado e o resultado propriamente dito passou por uma série de intempéries em eleições mundo afora na última década. Não por coincidência, período de ascensão de uma extrema-direita mais radical que distorceu prognósticos e fez movimentos eleitorais que os institutos não conseguiram captar nas sondagens.

Assim foi na vitória surpreendente de Trump em 2016 e de Jair Bolsonaro em 2018, por exemplo. A expressão “voto de embaraço” entrou no meio político, em referência ao eleitor que não revelava à pesquisa o candidato no qual votaria por vergonha de admitir que apoiaria alguém com ideias mais extremistas.

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, fala à mídia enquanto participa de seu julgamento por supostamente encobrir pagamentos de dinheiro secreto no Tribunal Criminal de Manhattan em 6 de maio de 2024, na cidade de Nova York(Foto: POOL / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP)
Foto: POOL / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, fala à mídia enquanto participa de seu julgamento por supostamente encobrir pagamentos de dinheiro secreto no Tribunal Criminal de Manhattan em 6 de maio de 2024, na cidade de Nova York

Esse voto não chegou a ser decisivo nas tentativas fracassadas de reeleição de Trump e Bolsonaro, respectivamente em 2020 e 2022. Mas também causou distorções de resultado em menor grau no comparativo com as pesquisas, com as urnas revelando um cenário real bem mais parelho que o esperado. O que também serviu de combustível para teorias conspiratórias golpistas lá e aqui.

Contudo, acadêmicos americanos com os quais conversei têm apontado uma inversão desse voto de embaraço para 2024. Joe Biden construiu uma vitória na corrida eleitoral de quatro anos atrás com base em um comparecimento recorde do eleitor às urnas e no voto de minorias – latinos, asiáticos, negros, comunidade LGBTQIA+ – contrárias a Trump.

A leitura é de que o futuro eleitoral de Biden pode seguir dois caminhos. Em um primeiro, ruim para o democrata, seus apoiadores insatisfeitos com o apoio incondicional dos EUA a Israel no conflito em Gaza ou mesmo frustrados com seu governo poderiam se sentir desestimulados a saírem de casa para votar por sua reeleição.

Em um segundo cenário, um pouco menos pessimista, entraria o voto de embaraço. Nesse, a insatisfação com o governo Biden seria a mesma e haveria o constrangimento de admitir publicamente apoio ao democrata. Mas, no silêncio solitário da urna, o voto seria por sua manutenção de poder para evitar um retorno de Trump à Casa Branca.

Protestos nas universidades

Após semanas de agitação por parte de manifestantes pró-palestinos no campus, a Columbia decidiu cancelar a sua cerimónia de formatura principal por medo e preocupação com protestos durante o evento(Foto: SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP)
Foto: SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP Após semanas de agitação por parte de manifestantes pró-palestinos no campus, a Columbia decidiu cancelar a sua cerimónia de formatura principal por medo e preocupação com protestos durante o evento

Ganham volume e peso os protestos contra o governo americano pelo suporte dado às ações de Israel na guerra. A tradicional Universidade de Columbia, onde a polícia entrou no campus semana passada para expulsar um grupo de estudantes que tinham ocupado um edifício, anunciou ontem o cancelamento da principal cerimônia de formatura, prevista para a próxima semana.

Mais de 2 mil pessoas chegaram a ser detidas em protestos registrados em 140 universidade americanas em 45 estados, de acordo com a BBC.

Biden ainda lidera com folga as pesquisas nos segmentos do eleitorado com diploma e entre jovens universitários. Mas essa parcela é bem mais reduzida do que fora quatro anos atrás. O sinal de alerta da campanha democrata está ligado há meses e pouca coisa foi feita para conter essa perda.

O papel da Casa Branca na injustificável tentativa de Israel de invadir a cidade de Rafah pode mexer com os rumos da corrida eleitoral daqui a seis meses.

O poder dos indecisos

Um dado específico que chama bastante atenção na pesquisa Ipsos/Reuters é que 28% dos eleitores registrados que foram ouvidos disseram que não escolheram um candidato, estavam inclinados para opções de terceiros ou talvez nem votassem. Um número bastante significativo se pensarmos que na disputa estão o atual presidente e seu antecessor. Ou seja, duas figurinhas repetidas bastante conhecidas pelo público.

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