
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Três décadas após Nelson Mandela ascender ao poder como presidente eleito de uma África do Sul livre do regime de apartheid, seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA) se vê em maus lençóis e diante de um cenário real no qual pode terminar com menos da metade dos votos na eleição a ser realizada na próxima quarta-feira, 29.
As pesquisas mais recentes apontam que o CNA está com entre 40% e 42% das intenções de voto, o que de forma inédita não garantiria ao partido uma maioria de assentos no Parlamento. Na África do Sul, são os 400 deputados eleitos que escolhem o presidente para um mandato de cinco anos. Caso as projeções sejam confirmadas, o CNA precisaria formar uma coalizão com outros partidos para indicar a recondução do atual presidente Cyril Ramaphosa.
Esse declínio de desempenho eleitoral do CNA já era possível de ser observado com base nos resultados das últimas eleições. Nos primeiros pleitos após o regime de segregação racial Nelson Mandela (1994-1999), Thabo Mbeki (1999-2008) e Jacob Zuma (2009-2018) obtiveram votações que variaram entre 62% e 70%, Ramaphosa venceu em 2019 com “apenas” 57,5% dos votos.
Alguns fatores ajudam a explicar essa queda do CNA ao longo dos últimos anos e os motivos de ele chegar para esta eleição sob tanto risco. O primeiro e mais óbvio é o desgaste natural que qualquer partido tem se está há 30 anos no poder. Principalmente em um contexto de cortes de energia em grandes cidades, denúncias de corrupção envolvendo nomes importantes do partido e desemprego de 33% afetando sobretudo os mais jovens.
O perfil etário do eleitorado sul-africano também é um ponto determinante. Cerca de 42% dos 27,8 milhões de eleitores registrados tem menos de 40 anos. Ou seja, uma parcela significativa da população que, embora siga cultuando a imagem de Mandela como um herói nacional de resistência, não enxergue seus sucessores do CNA como lideranças capazes de solucionar os atuais problemas do país. Sem falar dos muitos sul-africanos que não eram nascidos durante o período de apartheid e têm uma perspectiva geracional diferente dos que sofreram com as décadas de segregação racial.
Além do CNA, três partidos devem obter votações significativas na eleição desta quarta-feira. Principal sigla de oposição nas últimas décadas, a Aliança Democrática (centro) segue como segunda força política, com as projeções lhe dando cerca de 25% dos votos. Se o CNA é favorito para vencer em sete das nove províncias, a Aliança Democrática deve receber a maioria dos votos em Western Cape, onde fica a Cidade do Cabo, capital legislativa da África do Sul.
Os outros dois partidos são oriundos de dissidências do CNA – o que também ajuda a explicar seu declínio mais recente. O partido MK (que tem esse nome em homenagem ao antigo braço paramilitar do CNA, uMkhonto we Sizwe (que significa “Lança da Nação”), está em terceiro nas pesquisas, com 14%.
Fundado em 2023, o MK é liderado pelo ex-presidente Jacob Zuma, que rompeu com o CNA. No último dia 20, o Tribunal Constitucional da África do Sul tornou Zuma inelegível devido a uma condenação contra ele por desacato judicial em 2021. No entanto, sua popularidade deve fazer do MK o partido mais votado em KwaZulu-Natal, província onde Zuma nasceu e construiu carreira política.
Em quarto, com 11%, está o Economic Freedom Fighters (Guerreiros da Liberdade Econômica, em tradução livre). Apesar do nome, essa é uma dissidência do CNA de extrema-esquerda e anti-sistema, liderada por Julius Malema. Ex-aliado de Zuma, ele foi expulso do CNA em 2012 e fundou o próprio partido no ano seguinte.
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