Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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O movimento de Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas na França dentro de três semanas logo após a grande derrota que sofreu nas eleições para o Parlamento Europeu dominou o noticiário internacional das últimas 48 horas. E, em certa medida, superestimou a vitória que a extrema-direita teve nas urnas.
Na França, de fato, o Reagrupamento Nacional liderado por Marine Le Pen conseguiu um resultado bastante expressivo, obtendo 30 dos 81 assentos reservados para o país. Mais que o dobro que as 13 cadeiras conquistadas pelo Renascimento, partido de Macron.
O avanço da extrema-direita para as eleições do Parlamento Europeu já era esperado de acordo com as pesquisas. E ele ocorreu com a coalizão radical e eurocética ganhando nove assentos e chegando a 58. Menos de 10% do total de 720 cadeiras, diga-se.
O impacto, porém, parece maior quando se nota o avanço dessa extrema-direita nos três pesos pesados do continente: Alemanha, Itália e a própria França. No entanto, ele é amortecido com as vitórias dos partidos mais próximos ao centro em outros países.
Em Portugal, o desempenho do Chega!, por exemplo, não foi nada de extraordinário. O mesmo aconteceu com o Vox, na Espanha. Nos dois países, os partidos tradicionais de centro-esquerda e direita mantiveram boas margens de votos. Até mesmo na Hungria, o Fidesz de Viktor Orbán venceu, mas com o pior resultado em 20 anos, quando o país aderiu à União Europeia.
Nos países nórdicos (Dinamarca, Suécia e Finlândia), os verdes foram na contracorrente e conseguiram bons resultados nas urnas. Assim como na Polônia, a Coligação Cívica (centro) liderada pelo premiê Donald Tusk foi vencedora.
O crescimento da extrema-direita europeia é inegável e precisa ser encarado com preocupação, dado o pouco apreço pela democracia, pelos direitos humanos e pela questão ambiental que esses grupos não fazem nenhuma questão de esconder que têm.
Mas esse avanço também demanda a calma necessária para que não seja feita uma leitura precipitada que dê a ele uma hiperdimensão. O resultado da eleição para o Parlamento tem um copo meio cheio que, se não pode necessariamente ser celebrado, não pode ser esquecido.
O centro democrático ainda seguirá dando as cartas na Europa. A centro-direita (Cristãos Democratas) segue com o maior número de assentos: 186. A centro-esquerda (Sociais-democratas) aparece na sequência com 135. O centro (Renovar a Europa) é o grupo que ficou em terceiro com 79 cadeiras.
Juntos, esses grupos somam 400 dos 720 assentos do Parlamento em Bruxelas. Essa coligação que apoiou Ursula von der Leyen em 2019 deve proporcionar a ela um segundo mandato como presidente do Conselho Europeu.
O maior perdedor das eleições europeias foi o Bloco dos Verdes, que deverá ter 20 parlamentares a menos em Bruxelas. Com o crescimento da extrema-direita, a tendência é que a pauta ambiental enfrente mais obstáculos nos próximos anos.
O negacionismo climático é ponto de convergência para o conservadorismo extremo europeu, assim como a pauta migratória. Políticas de acolhimento de refugiados podem se tornar mais rígidas com a pressão dos grupos radicais.
No entanto, essa extrema-direita não é um bloco monolítico. A maneira como a União Europeia deve lidar com a Rússia e a guerra da Ucrânia é o principal ponto dissenso desse grupo. Mas, independente do resultado do último fim de semana, não é difícil projetar uma Europa investindo cada vez mais em Defesa para tentar responder a Vladimir Putin.
No pôquer, seria possível dizer que Macron deu um all in, arriscando tudo ao convocar eleições legislativas. O problema é que ele parece ser o tipo de jogador que blefa mal e não dá sinais de que tem uma trinca de ases nas mãos.
Macron optou por realizar um novo pleito dentro de 21 dias, sem muito tempo para virar o jogo. Tudo isso vai acontecer menos de um mês antes dos Jogos Olímpicos de Paris, para onde os olhos de todo o mundo já estariam naturalmente voltados.
A principal aposta dele é a de que a alta abstenção (51%) do último fim de semana não se repita nas eleições legislativas, o que derrubaria o desempenho do partido de Le Pen.
Pesquisas divulgadas ontem apontam que o Reagrupamento Nacional triplicaria de tamanho no Legislativo, saindo de 88 deputados para algo em torno de 235 e 265. Ainda assim, abaixo dos 269 necessários para formar maioria.
O Renascimento, de Macron, minguaria dos atuais 250 para 125 ou 150 e precisaria mais do que nunca das legendas de centro-esquerda e centro-direita para manter um governo (instável) até o longínquo 2027 e não deixar a extrema-direita chegar ao poder.
Há alguns meses, o Instagram de Presidência Francesa compartilhou fotos de um Macron lutando boxe, metido a machão.
Diante desse último revés eleitoral, das duas uma: ou Macron agiu no desespero e tentou dar uma resposta rápida por estar acuado; ou ele deu mais um sinal de que tem uma autoestima e uma autoconfiança muito maiores que o próprio juízo.
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