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Direito ao aborto também pauta o G7
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Direito ao aborto também pauta o G7

Termo ficou fora da declaração final após encontro do grupo na Itália. Questão dividiu Giorgia Meloni e Emmanuel Macron
Tipo Opinião
TEMA contrapôs Emmanuel Macron e Giorgia Meloni (Foto: LUDOVIC MARIN / AFP)
Foto: LUDOVIC MARIN / AFP TEMA contrapôs Emmanuel Macron e Giorgia Meloni

Não é apenas no Brasil que o aborto gestacional esteve no centro do debate público na última semana. O tema também esteve presente na reunião do G7 em meio a controvérsias. O comunicado final da reunião dos sete países que num passado distante foram os mais ricos do mundo suprimiu o termo “aborto”, citando apenas o compromisso com a promoção da “saúde e direitos sexuais e reprodutivos abrangentes para todos” e o avanço na “saúde materna, neonatal, infantil e adolescente, especialmente para aqueles em circunstâncias vulneráveis".

A declaração conjunta após o encontro na região italiana da Puglia foi diferente da firmada no encontro do ano passado em Hiroshima, no Japão, onde foi citada a necessidade de garantir “acesso ao aborto seguro e legal e aos serviços de cuidados pós-aborto". Na prática, um retrocesso simbólico para um grupo que luta para preservar algum protagonismo no século XXI.

As motivações para exclusão do termo já eram conhecidas antes mesmo da declaração ser tornada pública. Eleita sob uma plataforma de extrema-direita e já com um tempo de governo surpreendentemente maior que seus antecessores, a primeira-ministra italiana e anfitriã do encontro, Giorgia Meloni, não aceitou a inclusão do termo na declaração final. Diferente de Estados Unidos, França e União Europeia que defendiam a reprodução do comunicado do ano anterior.

Tal qual no Brasil, a direita radicalizada italiana quer tratar o aborto gestacional como uma questão ideológica e religiosa. E não como um debate mais amplo sobre promoção de saúde pública e garantia de direitos básicos das mulheres.

Recentemente, o governo Meloni aprovou uma lei que autoriza ativistas antiaborto a acessar centros de aconselhamento familiar – os quais são parte do sistema público de saúde italiano – para assediar e constranger mulheres que pensam em interromper voluntariamente a gestação. Desde 1978 o aborto é legalizado na Itália durante os primeiros 90 dias de gestação.

No G7, Meloni entrou em rota de colisão direta com Emmanuel Macron, acusando-o de usar o encontro para “fazer campanha” antes das eleições legislativas convocadas pelo próprio presidente francês e que serão realizadas em dois turnos a partir do próximo dia 30 de junho.

Após sofrer uma derrota nas eleições para o Parlamento Europeu, Macron dissolveu a Assembleia Nacional em um movimento arriscado que pode comprometer seu governo, levando ao poder a extrema direita francesa liderada por Marine Le Pen e Jordan Bardella.

No último mês de março, em uma decisão histórica, a França se tornou o primeiro país do mundo a incluir o aborto como um direito constitucional. A interrupção voluntária da gestação já era legalizada no país desde 1975, mas o fortalecimento desse direito se tornou uma bandeira do governo Macron, que fez da ocasião um evento especial no Palácio de Versalhes.

Tema crucial na eleição dos EUA

O aborto será também um tema central na eleição de novembro nos EUA, o que ajuda a explicar o posicionamento americano no G7. O Partido Democrata tem explorado o tema antes mesmo da campanha começar para valer, com base em pesquisas que mostram um eleitorado majoritariamente refratário a restrições de direitos reprodutivos. A estratégia passa também pelo incentivo ao voto feminino e de eleitores independentes, que fizeram a diferença em favor de Joe Biden em 2020.

Embora Donald Trump vocifere contra o direito ao aborto, o assunto é visto com cautela no Partido Republicano. Isso porque nos estados que mudaram as legislações sobre o tema após a decisão da Suprema Corte em junho de 2022 no caso Roe x Wade, as alterações não foram consideradas populares junto ao eleitorado.

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