
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Quando, há um mês, Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições legislativas, a justificativa dada por ele era a de que a população deveria dar um “esclarecimento político” sobre o que queria para o país após a extrema direita da França sair vitoriosa das eleições para o Parlamento Europeu.
Macron contava que uma forte mobilização em três semanas estimularia o eleitor francês a ir às urnas, o que frearia a escalada do Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen. De fato, o maior comparecimento para uma disputa legislativa desde 1997 – com dois terços dos eleitores indo votar – derrubou os prognósticos de que o bloco de extrema direita sairia da disputa com maioria absoluta no Parlamento.
Mas as boas notícias para o presidente francês param por aí. Embora tivesse um quê de tudo ou nada, a cartada de risco lançada por ele trouxe mais incertezas do que respostas no cenário político francês.
O resultado evidenciou a existência de três blocos muito claros na política francesa: a ampla coalizão de esquerda (Nova Frente Popular, NFP) que obteve 180 cadeiras; a de centro capitaneada por Macron (Juntos pela República) que ficou com 159 assentos; e a extrema direita de Le Pen e Jordan Bardella, que frustrou as expectativas do radicalismo conservador e terminou a disputa com 142 deputados. Ou seja, nenhum deles chegou perto dos 289 necessários para formar maioria.
Com a extrema direita posicionada na oposição, a principal questão agora é como os blocos da esquerda e o de centro vão sentar, aparar arestas e chegar a um acordo por um nome para ocupar o cargo de primeiro-ministro. A aliança estratégica anti-RN funcionou para a eleição, mas é bem mais complexa de ser sustentada para a formação de outros consensos.
Fora a aversão ao RN, são poucos os pontos de contato entre os dois grupos. Essa frente muito ampla é composta por políticos que vão desde a centro-direita à esquerda mais radical e eurocética.
Esquerda esta que é a grande vencedora da eleição e que, mesmo precisando dialogar com Macron, não tem a disposição para ceder tanto quanto o presidente acha ser capaz de conseguir.
Uma eventual revogação da reforma da previdência empurrada por Macron goela abaixo ano passado, por exemplo, certamente estará à mesa como uma ferida aberta de difícil cicatrização na hora de negociar.
Após tanta turbulência, resta ao presidente tentar ganhar tempo apelando para o espírito olímpico em busca de uma trégua conciliatória até o fim dos Jogos de Paris, que começam daqui a praticamente duas semanas.
Numa primeira vista e colocando em perspectiva as projeções feitas anteriormente pelas pesquisas, ninguém parece ter saído tão derrotado das legislativas francesas quanto Marine Le Pen e Jordan Bardella. A extrema direita ficou longe de fazer o número vislumbrado de cadeiras na Assembleia Nacional.
No entanto, não custa lembrar que o RN fez dois deputados em 2012, aumentou para oito em 2017, para 89 em 2022 até chegar aos 142 que sua coalizão conseguiu neste fim de semana. De derrotada, a extrema direita francesa não teve nada.
Nesse período o RN deixou de ser um partido focado apenas na figura de Le Pen, o que restringia sua força às disputas presidenciais. Agora, com estrutura e capilaridade realmente de um partido, ganha força no Legislativo e dentro da política francesa como um todo.
De quebra, ela seguirá como oposição, sendo pedra contra a vidraça de centro e esquerda até as eleições presidenciais de 2027 quando Le Pen promete voltar ainda mais forte e, portanto, mais ameaçadora à democracia.
“A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua subindo e, consequentemente, nossa vitória apenas foi adiada”, disse Le Pen após os resultados do último domingo.
Joe Biden pediu ontem a congressistas democratas e lideranças do partido que o apoiem em continuar com sua candidatura. Quando o presidente dos EUA precisa pedir um voto de confiança interno para seguir na disputa pela reeleição é porque a coisa já saiu de controle.
Em duas semanas após o desastroso debate na TV, o presidente segue sangrando em praça pública, desgastado com a pressão para que desista.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.