Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
As primeiras reações de aliados de Donald Trump logo nos minutos seguintes ao ataque contra o ex-presidente no último sábado, 13, deixaram de maneira muito clara qual seria a estratégia discursiva republicana durante a campanha eleitoral. O próprio Trump, ao erguer o punho em sinal de enfrentamento enquanto era retirado, com sangue no rosto, do palanque por agentes do Serviço Secreto, já fornecia ali senha da narrativa a ser adotada.
No entanto, se já é possível projetar a dinâmica de narrativas e discursos ao longo da campanha, ainda é cedo para prognósticos do quanto o ataque do último sábado vai impactar nos votos propriamente ditos. Em uma primeira mirada, eu diria que pouco.
Quem vota em Biden seguirá com o democrata. Por convicção ou para evitar um mal maior. Quem vota em Trump continuará da mesma maneira. Em uma disputa com votos tão cristalizados, é muito difícil a balança ser desequilibrada com uma migração de votos de um lado para o outro.
Um impacto pós-ataque que pode ser determinante – e que ainda é uma incógnita – é o quanto o eleitor vai se sentir mais ou menos estimulado a ir votar em 6 de novembro. Sobretudo nos swing states como a Pensilvânia, local do comício de Trump do último sábado.
Nos próximos quatro meses, o discurso de que Donald Trump é perseguido pelo sistema e resiste cada vez mais às tentativas de derrubá-lo e, agora, matá-lo serão a tônica da campanha republicana. O tom e a estética messiânica em torno dele em seus comícios será o ponto mais evidente a ser explorado de agora em diante.
Tente convencer alguém que o apoia cegamente e se depare com um eleitor que enxerga cada vez mais em Trump a imagem de um herói americano que escapou da morte por milímetros diante de seus seguidores, mas resistiu. Lógico que essa é uma narrativa enganosa e clichê, mas vai falar isso para um trumpista convicto.
Isso vale até mesmo para os poucos eleitores indecisos. Aqueles que não estão seguros de votar em Trump ou votam em Biden com ressalvas. O reforço do discurso vitimista do candidato republicano restringe o raio de ação da estratégia democrata em pregar no ex-presidente a imagem de um criminoso condenado capaz de atentar contra a democracia.
Por um momento, os democratas precisarão – e já estão fazendo isso – cessar os ataques a Trump. Mas prolongar essa trégua por muito tempo pode ser fatal para as chances de reeleição de Biden.
A questão do tempo em que os fatos acontecem tem um peso determinante nos impactos eleitorais. O ataque contra Trump se deu no momento em que Biden estava mais pressionado em razão do seu desempenho no debate, uma série de outras gafes e muitos questionamentos quanto à saúde do presidente para seguir no cargo.
As inúmeras imagens que mostram Trump em posição desafiadora e com o rosto ensanguentado serão utilizadas por sua campanha para mostrar o republicano como um candidato com uma retórica masculinizante de força e vigor em contraste às fragilidades físicas e mentais que expuseram Biden nas últimas semanas.
Por outro lado, o debate sobre uma eventual troca na candidatura democrata foi eclipsado pelo atentado contra Trump. O que certamente é um respiro político para Biden internamente, mas não uma garantia de que o saldo será positivo para o partido.
Durante uma campanha eleitoral, alguns fatos servem como pontos de virada irreversíveis. Até fevereiro de 2020, a reeleição de Donald Trump era dada como certa. A postura antivax do então presidente mudou o jogo completamente.
Em maio daquele ano, o caso do policial que assassinou George Floyd em Minnesota enterrou de vez as chances do republicano. Em meados de julho, como agora, o desgaste da imagem de Trump já era incontornável e as chances dele vencer ficaram reduzidas, restando a ele tentar sabotar a eleição, como o fez.
Neste ano, é a vez de Biden ter que lidar com uma série de reveses de imagem em sua campanha. A corrida democrata agora é de buscar algo que reverta a atual dinâmica eleitoral antes que seja tarde demais.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.