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Biden e a hora certa de jogar a toalha
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Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO

Biden e a hora certa de jogar a toalha

Ao desistir da disputa pela reeleição no último domingo, Joe Biden reverteu uma sequência de pautas negativas para os democratas nas últimas três semanas
Tipo Análise
JOE BIDEN abriu mão da candidatura e declarou apoio a Kamala Harris (Foto: KENT NISHIMURA / AFP)
Foto: KENT NISHIMURA / AFP JOE BIDEN abriu mão da candidatura e declarou apoio a Kamala Harris

Uma campanha eleitoral exitosa costuma ser alicerçada na própria capacidade de construir e contar histórias que envolvam, cativem e convençam os eleitores a votarem num determinado candidato. A capacidade de vender uma imagem. A mensagem que esse postulante passa e a forma como isso ocorre na maioria dos casos importa mais do que quem ele realmente é.

A importância da comunicação política está longe de ser algo novo e não faltam exemplos no último século de como ela foi decisiva em pleitos ao redor do mundo. O peso das redes sociais em uma disputa eleitoral, cujo o marco fundador foi a campanha de Barack Obama à Casa Branca em 2008, renovaram mais a velocidade e o dinamismo com que essas histórias precisam ser contadas do que a essência delas em si.

O tempo, dessa forma, passar a ser preponderante. Saber manejá-lo pode ser o fator diferencial entre conseguir uma vitória nas urnas ou amargar um fracasso retumbante. Ao finalmente jogar a toalha da disputa pela reeleição no último domingo, Joe Biden reverteu uma sequência de pautas negativas para os democratas nas últimas três semanas.

A começar com o desempenho desastroso dele no debate contra Donald Trump no dia 27 de junho, quando cresceram as desconfianças quanto à saúde física e mental do presidente e a pressão para que ele desistisse da disputa.

Enquanto isso, Trump celebrava vitórias judiciais que viabilizariam sua campanha. O ápice da narrativa republicana foi no dia 14 de julho, quando o ex-presidente foi alvo de um atentado à bala e fez da sobrevivência uma grande alavanca de campanha durante a convenção do partido nos dias seguintes.

O diagnóstico de Covid-19 na última semana foi o ponto final no rodamoinho de insucessos para Biden. Reconstruir uma imagem e uma narrativa àquela altura já seria muito custoso para ele e para os democratas. 

Os democratas precisavam urgentemente corrigir a rota e retomar o controle da pauta eleitoral. E conseguiram. Hoje, ninguém fala mais que Trump levou um tiro na orelha e escapou por centímetros da morte. Uma decisão histórica de Biden que eclipsou momentaneamente um outro fato histórico.

Na disputa desse ano, o atentado certamente voltará a ser assunto. Mas caso isso acontecesse 30 anos atrás, não se falaria de outra coisa até o dia da eleição. Hoje só se fala de Kamala Harris ou quem será o candidato democrata.

Como dizem os próprios americanos, os democratas estão “back on track”. Volta a existir uma disputa aberta pela Casa Branca. O clima antes da desistência era de que a vitória de Trump era favas contadas. Agora não é mais. As ondas mudam rápido. Nas últimas três semanas, a política nos EUA foi um maremoto. E muita água ainda vai ser mexida até novembro.

O fogo amigo democrata

Kamala Harris está sendo aclamada como substituta de Biden na eleição. É a escolha óbvia por ser a vice, indicada pelo próprio presidente ao desistir, um nome conhecido do eleitorado nacionalmente, boa de debate e que manteria as doações de campanha já feitas. Optar por outro nome não faz nenhum sentido.

Harris teve o apoio imediato de Biden, do casal Clinton, dos deputados e senadores considerados mais progressistas e de pelo menos sete governadores. Ontem, Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes e atual presidente emérita do partido, também endossou o nome de Harris. Dos pesos pesados, só Barack Obama não declarou apoio nominalmente a ela.

O peso da grana

Os poderes econômico e político caminham lado a lado em uma campanha. Quando o econômico deixa de confiar no político, a figura política é pressionada até desidratar e ser trocada. E sem dinheiro não se elege um vereador em Fortaleza. O que dirá de um presidente nos EUA. 

As doações de campanha para Biden estavam estagnadas, sem haver mais garantias de que o sustentariam para a reeleição. A reação após a desistência foi imediata. A campanha de Harris arrecadou US$ 81 milhões em 24 horas. O recorde dá a certeza de que ela será a candidata.

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