Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Uma campanha eleitoral exitosa costuma ser alicerçada na própria capacidade de construir e contar histórias que envolvam, cativem e convençam os eleitores a votarem num determinado candidato. A capacidade de vender uma imagem. A mensagem que esse postulante passa e a forma como isso ocorre na maioria dos casos importa mais do que quem ele realmente é.
A importância da comunicação política está longe de ser algo novo e não faltam exemplos no último século de como ela foi decisiva em pleitos ao redor do mundo. O peso das redes sociais em uma disputa eleitoral, cujo o marco fundador foi a campanha de Barack Obama à Casa Branca em 2008, renovaram mais a velocidade e o dinamismo com que essas histórias precisam ser contadas do que a essência delas em si.
O tempo, dessa forma, passar a ser preponderante. Saber manejá-lo pode ser o fator diferencial entre conseguir uma vitória nas urnas ou amargar um fracasso retumbante. Ao finalmente jogar a toalha da disputa pela reeleição no último domingo, Joe Biden reverteu uma sequência de pautas negativas para os democratas nas últimas três semanas.
A começar com o desempenho desastroso dele no debate contra Donald Trump no dia 27 de junho, quando cresceram as desconfianças quanto à saúde física e mental do presidente e a pressão para que ele desistisse da disputa.
Enquanto isso, Trump celebrava vitórias judiciais que viabilizariam sua campanha. O ápice da narrativa republicana foi no dia 14 de julho, quando o ex-presidente foi alvo de um atentado à bala e fez da sobrevivência uma grande alavanca de campanha durante a convenção do partido nos dias seguintes.
O diagnóstico de Covid-19 na última semana foi o ponto final no rodamoinho de insucessos para Biden. Reconstruir uma imagem e uma narrativa àquela altura já seria muito custoso para ele e para os democratas.
Os democratas precisavam urgentemente corrigir a rota e retomar o controle da pauta eleitoral. E conseguiram. Hoje, ninguém fala mais que Trump levou um tiro na orelha e escapou por centímetros da morte. Uma decisão histórica de Biden que eclipsou momentaneamente um outro fato histórico.
Na disputa desse ano, o atentado certamente voltará a ser assunto. Mas caso isso acontecesse 30 anos atrás, não se falaria de outra coisa até o dia da eleição. Hoje só se fala de Kamala Harris ou quem será o candidato democrata.
Como dizem os próprios americanos, os democratas estão “back on track”. Volta a existir uma disputa aberta pela Casa Branca. O clima antes da desistência era de que a vitória de Trump era favas contadas. Agora não é mais. As ondas mudam rápido. Nas últimas três semanas, a política nos EUA foi um maremoto. E muita água ainda vai ser mexida até novembro.
Kamala Harris está sendo aclamada como substituta de Biden na eleição. É a escolha óbvia por ser a vice, indicada pelo próprio presidente ao desistir, um nome conhecido do eleitorado nacionalmente, boa de debate e que manteria as doações de campanha já feitas. Optar por outro nome não faz nenhum sentido.
Harris teve o apoio imediato de Biden, do casal Clinton, dos deputados e senadores considerados mais progressistas e de pelo menos sete governadores. Ontem, Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes e atual presidente emérita do partido, também endossou o nome de Harris. Dos pesos pesados, só Barack Obama não declarou apoio nominalmente a ela.
Os poderes econômico e político caminham lado a lado em uma campanha. Quando o econômico deixa de confiar no político, a figura política é pressionada até desidratar e ser trocada. E sem dinheiro não se elege um vereador em Fortaleza. O que dirá de um presidente nos EUA.
As doações de campanha para Biden estavam estagnadas, sem haver mais garantias de que o sustentariam para a reeleição. A reação após a desistência foi imediata. A campanha de Harris arrecadou US$ 81 milhões em 24 horas. O recorde dá a certeza de que ela será a candidata.
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