Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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A disputa entre Kamala Harris e Donald Trump pela Casa Branca não está restrita aos discursos, às propostas, às acusações e ao debate marcado para 10 de setembro. Assim como em várias eleições mundo afora, os memes já estão oficializados como arma de campanha de ambos os lados nas redes sociais.
A convenção democrata realizada na última semana foi um prato cheio para quem tem mais familiaridade com a linguagem mais despojada das redes. Uma das principais lideranças do partido e ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi foi apresentada como “Mãe dos Dragões – em referência à série Game of Thrones.
Em outro vídeo que viralizou, o Air Force Two – avião oficial da vice-presidência dos EUA – é recebido por uma multidão ao som de “Freedom”, música que Beyoncé liberou para campanha democrata. “Aviso: O conteúdo deste vídeo pode aborrecer Donald Trump”, diz a legenda provocativa da postagem na Truth Social, plataforma criada pelo próprio Trump após ser banido das redes.
O perfil oficial @KamalaHQ é dedicado especialmente a publicar o conteúdo com teor mais irônico e descontraído em favor da candidata democrata. A conta no Twitter tem como imagem de fundo uma tela verde neon em baixa resolução, cor do álbum “Brat”, o último lançado pela cantora britânica Charli XCX, que também “batizou” Kamala com o termo.
Charli XCX descreveu o verbete em um vídeo publicado no TikTok como “uma garota que é um pouco bagunceira, gosta de festas e às vezes fala besteiras. Que se sente bem consigo mesma, mas às vezes tem crises. E que se diverte apesar disso. É muito honesta, muito direta, um pouco volátil. Faz coisas bobas. Isso é ser uma brat.”
Kamala Harris comprou a brincadeira e abraçou o meme. Sua campanha tem usado e abusado desse tipo de linguagem nas redes sociais como contraposição ao conservadorismo e a sisudez que compõem a figura de Trump, curiosamente alguém que parecia difícil de ser superado nessa arena digital.
O objetivo dos democratas parece muito claro em apostar na mobilização rápida e dinâmica da base de eleitores do partido que em algum momento tenham se sentido desestimulados a votar se o candidato ainda fosse Joe Biden. A tentativa de migrar esse engajamento das redes para as urnas faz sentido se pensarmos que há pouco mais de um mês eram poucos democratas motivados com a candidatura do presidente à reeleição.
A estratégia passa por atrair eleitores jovens, negros e mulheres apresentando Kamala como alguém que foge do estereótipo de político tradicional.
Em resposta, Trump tenta repetir nas redes a fórmula que o ajudou a ser eleito em 2016 e lhe deu ainda mais votos em 2020, embora tenha perdido para Biden. Muito barulho e gritaria da parte de seus seguidores e robôs. E, claro, um culto à personalidade reproduzido ad nauseum e desinformação a todo momento.
Essa investida democrata no meio digital não chega a ser novidade. Guardadas as diferenças de época, foi a partir do Twitter que Barack Obama virou um fenômeno que cruzou essa fronteira em 2008. Há 16 anos, a rede social e a interação proporcionada por ela eram as novidades em si. Agora, o manejo correto da linguagem e das ferramentas são o diferencial.
Não deixa de haver uma ironia no fato de o Twitter hoje ter um dono que apoia Trump incondicionalmente e cujas pretensões meio lunáticas se assemelham mais a de um vilão de filmes 007.
É ainda mais curioso parar para pensar que esse embate digital entre Kamala e Trump ocorre também no TikTok. A mesma rede social chinesa que entrou na mira dos EUA no período no qual Trump era presidente.
E assim seguiu durante os anos de Joe Biden, quando funcionários federais americanos foram proibidos de usarem a rede social. Isso não vale para vice-presidente, que tem 4,8 milhões de seguidores por lá, enquanto Trump tem 10,6 milhões.
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