
Editor de Política do O POVO, escreve sobre Política Internacional. Já foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO
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Dois episódios nem tão recentes assim colocaram o bilionário Elon Musk em rota de colisão com ações que o obrigaram a acatar ordens de outros países. E o empresário o fez sem o mesmo esperneio que protagonizou no caso envolvendo a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que ordenou a suspensão do X (ou Twitter) do Brasil.
Em maio de 2023, o governo da Turquia ordenou que fossem derrubadas do X contas e publicações de opositores do presidente Recep Tayyip Erdogan. Assim mesmo, uma manobra cujo único propósito era silenciar aqueles que são contrários a quem está no poder. Com um detalhe. Naquele mesmo mês eram realizadas as eleições que reconduziram Erdogan à presidência.
Embora autoproclamado defensor intransigente da liberdade de expressão, Musk cumpriu as ordens. Quatro meses depois, ele teve um encontro em Nova York com Erdogan, que viajara para a Assembleia Geral das Nações Unidas.
A reunião amistosa contou ainda com o pedido do presidente turco para que Musk instalasse uma fábrica da Tesla no país e um momento de saia-justa entre o presidente e o empresário que estava com o filho no colo. “Cadê sua esposa?”, perguntou Erdogan. "Ela está em São Francisco. Mas estamos separados. Eu cuido dele a maior parte do tempo", respondeu um embaraçado Musk.
Em 2021, quando ainda não havia sido comprada por Elon Musk e se chamava Twitter, a plataforma começou uma disputa judicial com a Índia. No centro do embate estava a notificação do governo indiano para que fossem excluídos perfis ligados a protestos contra o governo de Narendra Modi.
Não são poucas, nem desprezíveis, as acusações contra o primeiro-ministro indiano de perseguir minorias étnicas. Grupos separatistas da etnia sikh apoiados pelo Paquistão eram o principal alvo da medida do governo Modi.
No entanto, em janeiro de 2023 – quando o X já estava sob controle de Musk – a plataforma removeu postagens que divulgavam trechos de um documentário da BBC denunciando a repressão de Modi quando ele governava a província de Gujarat. Em fevereiro deste ano, o X desistiu dos processos judiciais e acatou as determinações do governo indiano.
Em junho, Musk felicitou a Modi pela vitória nas eleições indianas. "Estou ansioso para ver minhas companhias fazendo um trabalho emocionante na Índia", disse Musk em seu perfil no X.
Antes de tudo é importante ficar claro que o X e Musk tinham ciência de que, de acordo com a legislação brasileira, precisavam nomear um representante legal no país. E que, ao retirá-lo, estavam sujeitos ao bloqueio imposto por Moraes. A plataforma não foi banida, mas ela precisa cumprir a lei para seguir atuando. Assim como qualquer empresário que deseje seguir com seu negócio no Brasil.
Os exemplos de Turquia e Índia acima mostram que Elon Musk age muito mais em conformidade aos próprios interesses. O empresário adequa seus posicionamentos políticos e econômicos conforme cada situação é colocada diante dele. A liberdade de expressão que ele tanto apregoa é muito mais retórica que um princípio indispensável para ele.
Fato é que ele mantém negócios com países autoritários como China (onde o Twitter sempre foi proibido) e Arábia Saudita. E dialoga com líderes como Erdogan e Modi que estão longe de serem exemplos de democratas.
Diferente desses países, Musk tem no Brasil apoio de figuras importantes da oposição na política ligadas a Jair Bolsonaro, que têm justamente o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes como principais adversários. É essa mesma extrema-direita que aplaude e dá palco para Musk sambar.
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